“Fiz tudo por dinheiro que não precisava.”. Foi com estas palavras que o italiano Francesco Giorgi —companheiro e pai da filha da ex-vice-presidente do Parlamento Europeu (PE) Eva Kaili — confirmou à Justiça o seu envolvimento no escândalo de corrupção que envolve eurodeputados e funcionários do Parlamento Europeu, escreve o jornal romano “La Reppublica”.
O parceiro de Kaili é um dos quatro detidos nesta investigação de corrupção. Reconhece ter agido ilegalmente e pediu desculpas pelo seu comportamento. O escândalo do alegado esquema de subornos no PE continua a provocar ondas de choque em Bruxelas e Estrasburgo, e todos os dias surgem novas notícias.
Do estágio em 2009 às malas de dinheiro em 2022
Giorgi é um conhecido associado de outro dos nomes centrais desta investigação, Antonio Panzeri, antigo eurodeputado do grupo de centro-esquerda Socialistas e Democratas (S&D). Foi detido, tal como a sua mulher e filha, que estariam conscientes dos negócios de natureza duvidosa que os procuradores belgas dizem que Panzeri manteve com Marrocos e Catar.
Panzeri é presidente da organização não-governamental Fight Impunity, que funcionará como fachada de toda a alegada trama. Pelo menos é esta uma das linhas de investigação que estão a ser seguidas pelas autoridades
A ligação do companheiro de Kaili a Panzeri é antiga. Segundo o depoimento do assistente parlamentar Giorgi, o primeiro encontro dele com Panzeri foi em 2009, antes de Giorgi ir trabalhar para Bruxelas. O jovem italiano tinha 22 anos quando conheceu Panzeri numa conferência e lhe pediu para fazer um estágio no PE.
Panzeri aceitou e, ao longo dos anos, tornou-se “mentor de Giorgi, figura de referência para o jovem entusiasta da Europa que dava os seus primeiros passos nas salas do PE. [Giorgi] trabalhava como seu assistente e foi sendo apresentado aos círculos políticos”, escreve “La Reppublica”.
Nas eleições europeias de 2019 Panzeri não foi reeleito, mas Giorgi “continuou a apoiá-lo”, passando "a cuidar do dinheiro” da organização. Uma disponibilidade dada por gratidão a quem o fez trabalhar na política, explicou o jovem, mas também por dinheiro. Dinheiro de que ele próprio confessou não precisar. O italiano recebia cerca de 2500 euros por mês como assistente parlamentar.
Kaili estava a aproximar-se dos conservadores?
Os rumores são anteriores ao escândalo. Kaili era vista como cada vez mais próxima dos conservadores gregos e europeus. Nos corredores do Parlamento Europeu, eurodeputados e funcionários comentam que a ex-vice-presidente estava a aproximar-se da direita. A maioria dos eurodeputados entende que é preciso respeitar o tempo da investigação, dada a gravidade do que está em causa.
Pouco depois da sua dertenção, sexta-feira passada, o líder do PASOK e eurodeputado Nikos Androulakis expulsou Kaili do partido. Acusa-a de agir como “cavalo de Tróia” para o partido conservador Nova Democracia, que governa atualmente a Grécia. Foi também Androulakis que disse que Kaili estaria a preparar-se para concorrer às próximas eleições na Grécia pela Nova Democracia.
O porta-voz do Governo helénico, Giannis Oikonomou, rejeitou essas alegações, escreve o “Politico”. “Kaili mantém relações muito boas e conseguiu ganhar a estima do partido Nova Democracia, até de Kyriakos Mitsotakis”, escreveu o jornal pró-governo grego “Proto Thema” num perfil sobre ela após a vitória eleitoral. “O primeiro-ministro lutou pela sua eleição como vice-presidente.”
Dinheiro apreendido seria para Panzeri e Giorgi
Segundo o testemunho do marido de Kaili, o dinheiro apreendido na investigação era “destinado a ele e a Panzeri”. Georgi insiste em dizer que a mulher não estava envolvida no esquema: “Farei o possível para que a minha companheira fique livre e possa cuidar da nossa filha de 22 meses”.
O advogado da eurodeputada grega, Michalis Dimitrakopoulos, disse à comunicação social grega que “Giorgi é o único que pode fornecer respostas sobre a existência [de dinheiro] na casa do casal, Eva Kaili não sabia de nada”. A polícia belga encontrou 150 mil euros na casa de ambos e 600 mil numa mala transportada pelo pai de Kaili. Já a polícia de Milão encontrou mais 20 mil euros na casa de Giorgi em Abbiategrasso.
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