Depois de anos marcados pela pandemia, do agravamento, nos últimos meses, das tensões em torno de Taiwan e com uma guerra em curso na Europa, os líderes dos Estados Unidos e da China sentaram-se esta segunda-feira à mesa para conversar. “Penso que o mais relevante é o facto de o encontro ter tido lugar”, comentou Raquel Vaz Pinto, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa. Esta foi a primeira reunião presencial entre os dois líderes desde que Biden assumiu a Presidência dos Estados Unidos, e a segunda viagem ao estrangeiro de Xi Jinping desde a pandemia.
As portas entre os dois países ficaram abertas ao diálogo, tendo a Casa Branca anunciado que o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken vai fazer uma visita à China. Além disso, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês destacou, em comunicado, que os Estados Unidos estão dedicados a manter os canais de comunicação abertos entre os dois presidentes e outros níveis governamentais, para “permitir conversas sinceras em assuntos sobre os quais os dois lados discordam”, bem como fortalecer a cooperação em temas globais, como as alterações climáticas.
“Falou-se num conjunto de temas mas, mais importante que tudo, parece-me ter sido o modus vivendi que foi combinado de passar a ser uma conversação mais frequente, mais regular, mais estruturada”, descreveu Vaz Pinto, acrescentando que “Vladimir Putin não deve estar muito contente com esta conversa e explica-se ainda melhor porque decidiu não pôr os pés em Bali”.
O Kremlin justificou a ausência de Putin da cimeira do G20, que vai decorrer em Bali, com problemas de agenda e a necessidade de permanecer na Rússia, tendo a delegação de Moscovo sido liderada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Um “encontro construtivo”
Jessica Chen Weiss, cientista política da Universidade Cornell, felicitou os EUA e a China pelo “encontro construtivo” em Bali. Numa publicação no Twitter, a académica considerou “encorajador que ambos os lados concordem em dar poder a altos funcionários (incluindo um acordo para o Secretário de Estado Blinken visitar a China) para desenvolverem princípios para gerir a relação e grupos de trabalho para progredirem em temas específicos”.
Weiss também olha com otimismo para a oposição partilhada ao uso de armas nucleares na Ucrânia. Isto significa que há um ponto de viragem na relação entre os dois países? A académica escreve que vai depender da prioridade dada por ambos os lados a “acalmar os ânimos nas próximas semanas”, bem como até que ponto vão continuar ações que “alimentem um agravamento da dinâmica”.
Em comunicado, a Casa Branca escreveu que a comunidade internacional espera que os Estados Unidos e a China trabalhem em conjunto para responder a desafios transnacionais, como as alterações climáticas, saúde, estabilidade macroeconómica e segurança alimentar mundial. Os direitos humanos também foram postos em cima da mesa pelo Presidente Joe Biden, que levantou objeções às ações da China contra Taiwan.
“O Presidente Biden e o Presidente Xi reiteraram que concordam que uma guerra nuclear nunca deve ser travada e nunca poderá ser ganha e frisaram a sua oposição ao uso ou ameaça do uso de armas nucleares na Ucrânia”, pode também ler-se. Na ótica de Raquel Vaz Pinto, esta reafirmação “é um sinal muito claro a Putin de que não se pode passar esta linha”.
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