Eleições nos EUA: Câmara dos Representantes está mais perto dos republicanos e o controlo do Senado pode ser decidido apenas em dezembro
Ação de campanha numa escola de Becca Balint, a candidata democrata que se tornou a primeira mulher da história a representar o Vermont no Congresso.
The Washington Post
Já é certo que uma eventual vitória do Partido Republicano será magra, mas os conservadores continuam na frente para controlar a Câmara dos Representantes, estando o Senado provavelmente pendente de uma segunda volta na Geórgia. Os resultados finais só serão conhecidos nas próximas semanas, mas já há um dado confirmado: há mais mulheres, negros e pessoas LGBTQ+ em lugares de decisão nos EUA
Dois dias depois das eleições intercalares norte-americanas, 35 lugares na Câmara dos Representantes estavam ainda por apurar até ao início da noite desta quinta-feira. O Partido Republicano está na frente – conquistou 209 distritos contra 191 do Partido Democrata – mas o controlo do órgão legislativo dos EUA só vai ficar assegurado quando um dos partidos chegar aos 218 lugares. Dado que estados como o Arizona ou o Nevada ainda estão a contar votos, pode demorar vários dias até que se saiba que partido vai controlar a câmara baixa do Congresso nos próximos quatro anos.
As alterações nos círculos eleitorais (gerrymandering) levadas a cabo antes das eleições favoreceram os candidatos conservadores em Estados importantes como Nova Iorque ou Florida – onde pelo menos seis assentos anteriormente democratas já passaram para o lado republicano, a que se juntam vitórias em distritos eleitorais da Virgínia, Tennessee, Wisconsin e Iowa.
No entanto, os democratas também recuperaram lugares que eram republicanos: na Carolina do Sul, no Ohio ou no Michigan, por exemplo. E estão a ameaçar em alguns lugares ainda em disputa: Lauren Boebert – candidata republicana no 3.º distrito do Colorado com uma agenda pró armas e apoiante fervorosa de Trump – anunciou o “início da onda vermelha” após o fecho das urnas, mas neste momento está com muitas dificuldades para manter o lugar.
Uma margem da vitória estreita, para qualquer uma das partes, representa inevitavelmente um maior jogo de cintura nas votações principais - há frequentemente congressistas, de ambos os partidos, que fogem às posições ditas oficiais e que negoceiam contrapartidas pelos votos.
O controlo do Senado também está por apurar e a indefinição vai prolongar-se provavelmente mais tempo do que na Câmara dos Representantes. Para já, o Partido Democrata conquistou 48 assentos contra 49 dos republicanos. A maioria é alcançada com 51 mandatos.
Na Geórgia, a disputa avança para uma segunda volta, a 6 de dezembro, já que nenhum dos candidatos ultrapassou o limiar exigido dos 50%. O senador democrata Raphael Warnock (cuja vitória no ano passado ajudou o partido a ganhar o controlo do Senado) conseguiu 49,42%, face a 48,52% do republicano Herschel Walker, ex-jogador de futebol americano e apoiado por Trump: pouco mais de 35 mil votos separaram os dois homens.
Além disso, o processo de contagem de votos continua no Arizona e no Nevada: no primeiro caso, com 70% dos votos contados, o democrata Mark Kelly tem cinco pontos percentuais de vantagem sobre Blake Masters, republicano apoiado por Trump; no Nevada, as autoridades estão à espera dos boletins do voto à distância em pelo menos um condado e o resultado final só deverá ser anunciado na próxima semana – a incumbente democrata, a senadora Catherine Cortez Masto, está 16 mil votos atrás do republicano Adam Laxalt, outro candidato trumpista, o que representa menos de dois pontos percentuais de distância.
Se se confirmar a situação atual nestes dois estados, o controlo do Senado será definitivamente decidido na Geórgia. Em caso de vitória democrata regista-se um empate 50-50 e tem voto de qualidade a vice-presidente Kamala Harris, por inerência presidente do Senado – e isso significaria a manutenção do controlo azul da câmara alta, o que seria um alívio para Joe Biden. Se os democratas vencerem no Arizona e no Nevada, a corrida na Geórgia será para “cumprir calendário”.
Ron DeSantis é definitivamente um dos grandes vencedores das midterms de 2022. Venceu a sua corrida na Flórida e pode ser um sério rival de Trump em 2024
Uma das principais conclusões que já se podem retirar destas eleições intercalares é a entrada em força na política norte-americana de mulheres, negros e membros da comunidade LGBTQ+.
O Massachusetts elegeu uma governadora lésbica pela primeira vez na sua história: a democrata Maura Healey. No Maryland, Wes Moore será o primeiro governador negro: um veterano de combate que liderou uma das maiores organizações anti-pobreza do país e fez campanha para diminuir a desigualdade. Algo semelhante aconteceu na Pensilvânia, que terá a sua primeira congressista negra na democrata Summer Lee.
Jim Vondruska
Também será a primeira vez que o Vermont será representado por uma mulher no Congresso: a democrata Becca Balint, sendo que este era o único Estado do país que nunca tinha tido representação feminina. E a Republicana Sarah Huckabee Sanders tornou-se a primeira mulher a governar o Arkansas.
Aliás, o número de mulheres a ocupar o cargo de governadora atingirá os dois dígitos pela primeira vez em 2023, com pelo menos 12 mulheres a garantirem a liderança dos seus Estados. Ou seja, quase um quarto dos Estados do país serão liderados por mulheres.
Na Florida, foi eleito para o Congresso o primeiro membro da Geração Z, ou seja, nascido entre a segunda metade dos anos 1990 até ao início do ano 2010. O democrata Maxwell Frost, um negro de 25 anos de origem cubana, alcançou uma confortável vitória. Voz ativa sobre o controlo de armas e defensor de seguros de saúde para todos, Frost contou com apoios de alto nível dos progressistas norte-americanos Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
É provável que o direito ao aborto tenha contribuído para o não aparecimento da onda vermelha. Depois de em agosto o Supremo Tribunal norte-americano ter eliminado o direito constitucional ao aborto e remetido a decisão para cada estado, eleitores um pouco por todo o país travaram vários candidatos republicanos que queriam restringir ainda mais o ato médico. Foi assim no Michigan, por exemplo: a governadora democrata Gretchen Whitmer, que prometeu “lutar com tudo” pelo direito ao aborto, venceu tranquilamente o candidato republicano Tudor Dixon.
Aliás, o direito ao aborto foi defendido nos cinco estados em que os cidadãos foram chamados a pronunciar-se sobre o assunto no dia das eleições. Aconteceu no Kentucky, (cujo governador queria aprovar um diploma que declarava a não existência ao direito de abortar), no Michigan, em Montana, Vermont, e na Califórnia. Segundo uma sondagem à boca das urnas da Edison, 76% dos eleitores democratas consideraram que o direito ao aborto foi a principal motivação para terem ido votar, juntamente com a economia.
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