Giorgia Meloni nega simpatia pelo fascismo e pede ajuda à UE para travar imigração

Primeira-ministra italiana apresentou programa de Governo aos deputados. Imigração e direitos cívicos estiveram no centro do seu discurso
Primeira-ministra italiana apresentou programa de Governo aos deputados. Imigração e direitos cívicos estiveram no centro do seu discurso
A nova primeira-ministra italiana negou esta terça-feira ter proximidade com ditaduras. “Nunca tive qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos, incluindo com o fascismo”, afirmou Giorgia Meloni, líder do partido pós-fascista Irmãos de Itália, durante o seu primeiro discurso perante a Câmara dos Deputados.
Meloni, que começou a carreira política na juventude do pós-fascista Movimento Social, considerou que as leis raciais contra judeus, aprovadas pelo regime de Benito Mussolini, “foram o ponto mais baixo” da história de Itália. Terá, pois, revisto a posição expressa numa entrevista, aos 19 anos, em que defendeu que Mussolini foi “um bom político” e que “tudo o que fez foi pela Itália.
A chefe de Governo tem tentado afastar-se dessa afirmação. Durante a campanha para as eleições de setembro, lançou um vídeo no qual proclamava a sua distância face ao fascismo do ditador italiano, aliado de Hitler na II Guerra Mundial.
“Lutaremos contra qualquer forma de racismo, antissemitismo, violência política e discriminação”, acrescentou, falando aos deputados. O discurso, que durou mais de uma hora, foi interrompido por aplausos da maioria governamental, composta pelo seu partido e pelos dois parceiros da coligação, Liga e Força Itália.
Segue-se um voto de confiança, que constitui o primeiro passo para a sua investidura. Ao apresentar-se ao Parlamento, Meloni falou da defesa do ambiente, salientando que “não há ambientalista mais convicto do que um conservador”. O que os distingue, explicou, é que um conservador quer “defender a natureza com o homem dentro, combinando a sustentabilidade ambiental, económica e social”.
Sobre a família, que tem ministério próprio no seu Executivo, explicou que “está previsto um plano imponente, económico mas também cultural, para redescobrir a beleza da paternidade e recolocar a família no centro da sociedade”. Promete “aumentar os valores dos subsídios por cada filho e ajudar os jovens casais a obter crédito para conseguirem comprar a sua primeira casa”.
Citando Montesquieu, que disse que “a liberdade é aquele bem que faz desfrutar de todos os outros bens”, a primeira-ministra assegurou que “este Governo de centro-direita nunca limitará as liberdades existentes dos cidadãos e das empresas”. Acusando a oposição de mentir sobre as suas intenções, rematou: “Veremos, quando os factos forem comprovados, inclusive em matéria de direitos civis e aborto, quem estava a mentir e quem estava a dizer a verdade”.
Falando da imigração, afirmou que o Governo pretende “travar as saídas ilegais” de migrantes de África com destino à Itália. Para tal, vai pedir à União Europeia que recupere a operação naval Sophia, que entre 2015 e 2020 assegurou o patrulhamento regular do Mediterrâneo por aviões europeus com vista a desmantelar redes de traficantes de seres humanos. A terceira fase dessa operação, nunca aplicada, visava “o bloqueio de saídas de navios do Norte de África”.
“Pretendemos propô-lo a nível europeu e aplicá-lo em acordo com as autoridades norte-africanas”, afirmou Meloni: propõe “a criação, em África, de centros de identificação, geridos por organismos internacionais, onde seja possível analisar os pedidos de asilo e distinguir quem tem o direito de ser aceite na Europa”. Não é seu propósito, diz, “questionar o direito de asilo daqueles que fogem da guerra e da perseguição”, antes travar os traficantes.
Meloni criticou a “terrível incapacidade de encontrar soluções adequadas para as várias crises migratórias” do passado e lembrou que “muitos homens, mulheres e crianças encontraram a morte no mar na tentativa de chegar à Itália”. Por isso, quer “seguir um caminho até agora pouco percorrido: travar as saídas ilegais e acabar finalmente com o tráfico de seres humanos no Mediterrâneo”.
A questão da migração é uma das mais polémicas em Itália, país que tem sido, nos últimos anos, uma das principais portas de entrada de migrantes irregulares para a Europa. Um dos dirigentes da coligação governamental, Matteo Salvini (Liga) foi fervoroso opositor da imigração quando tutelou a pasta do Interior. Enfrenta um julgamento por sequestro e abuso de poder, por ter proibido o desembarque de 147 migrantes resgatados no Mediterrâneo pelo navio da organização Open Arms, em agosto de 2019.
Durante a campanha, chegou a dizer que a Itália era um país mais seguro quando ele estava no poder. Defendeu que os pedidos de asilo passassem a ser realizados em centros de migração no norte de África e não nos países de destino.
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