Internacional

Giorgia Meloni nega simpatia pelo fascismo e pede ajuda à UE para travar imigração

Meloni foi aplaudida pelos seus aliados ao apresentar o programa de Governo ao Parlamento
Meloni foi aplaudida pelos seus aliados ao apresentar o programa de Governo ao Parlamento
FABIO FRUSTACI/Lusa

Primeira-ministra italiana apresentou programa de Governo aos deputados. Imigração e direitos cívicos estiveram no centro do seu discurso

A nova primeira-ministra italiana negou esta terça-feira ter proximidade com ditaduras. “Nunca tive qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos, incluindo com o fascismo”, afirmou Giorgia Meloni, líder do partido pós-fascista Irmãos de Itália, durante o seu primeiro discurso perante a Câmara dos Deputados.

Meloni, que começou a carreira política na juventude do pós-fascista Movimento Social, considerou que as leis raciais contra judeus, aprovadas pelo regime de Benito Mussolini, “foram o ponto mais baixo” da história de Itália. Terá, pois, revisto a posição expressa numa entrevista, aos 19 anos, em que defendeu que Mussolini foi “um bom político” e que “tudo o que fez foi pela Itália.

A chefe de Governo tem tentado afastar-se dessa afirmação. Durante a campanha para as eleições de setembro, lançou um vídeo no qual proclamava a sua distância face ao fascismo do ditador italiano, aliado de Hitler na II Guerra Mundial.

“Não há ambientalista mais convicto do que um conservador”

“Lutaremos contra qualquer forma de racismo, antissemitismo, violência política e discriminação”, acrescentou, falando aos deputados. O discurso, que durou mais de uma hora, foi interrompido por aplausos da maioria governamental, composta pelo seu partido e pelos dois parceiros da coligação, Liga e Força Itália.

Segue-se um voto de confiança, que constitui o primeiro passo para a sua investidura. Ao apresentar-se ao Parlamento, Meloni falou da defesa do ambiente, salientando que “não há ambientalista mais convicto do que um conservador”. O que os distingue, explicou, é que um conservador quer “defender a natureza com o homem dentro, combinando a sustentabilidade ambiental, económica e social”.

Sobre a família, que tem ministério próprio no seu Executivo, explicou que “está previsto um plano imponente, económico mas também cultural, para redescobrir a beleza da paternidade e recolocar a família no centro da sociedade”. Promete “aumentar os valores dos subsídios por cada filho e ajudar os jovens casais a obter crédito para conseguirem comprar a sua primeira casa”.

Recuperar a operação Sophia

Citando Montesquieu, que disse que “a liberdade é aquele bem que faz desfrutar de todos os outros bens”, a primeira-ministra assegurou que “este Governo de centro-direita nunca limitará as liberdades existentes dos cidadãos e das empresas”. Acusando a oposição de mentir sobre as suas intenções, rematou: “Veremos, quando os factos forem comprovados, inclusive em matéria de direitos civis e aborto, quem estava a mentir e quem estava a dizer a verdade”.

Falando da imigração, afirmou que o Governo pretende “travar as saídas ilegais” de migrantes de África com destino à Itália. Para tal, vai pedir à União Europeia que recupere a operação naval Sophia, que entre 2015 e 2020 assegurou o patrulhamento regular do Mediterrâneo por aviões europeus com vista a desmantelar redes de traficantes de seres humanos. A terceira fase dessa operação, nunca aplicada, visava “o bloqueio de saídas de navios do Norte de África”.

“Pretendemos propô-lo a nível europeu e aplicá-lo em acordo com as autoridades norte-africanas”, afirmou Meloni: propõe “a criação, em África, de centros de identificação, geridos por organismos internacionais, onde seja possível analisar os pedidos de asilo e distinguir quem tem o direito de ser aceite na Europa”. Não é seu propósito, diz, “questionar o direito de asilo daqueles que fogem da guerra e da perseguição”, antes travar os traficantes.

Salvini enfrenta julgamento

Meloni criticou a “terrível incapacidade de encontrar soluções adequadas para as várias crises migratórias” do passado e lembrou que “muitos homens, mulheres e crianças encontraram a morte no mar na tentativa de chegar à Itália”. Por isso, quer “seguir um caminho até agora pouco percorrido: travar as saídas ilegais e acabar finalmente com o tráfico de seres humanos no Mediterrâneo”.

A questão da migração é uma das mais polémicas em Itália, país que tem sido, nos últimos anos, uma das principais portas de entrada de migrantes irregulares para a Europa. Um dos dirigentes da coligação governamental, Matteo Salvini (Liga) foi fervoroso opositor da imigração quando tutelou a pasta do Interior. Enfrenta um julgamento por sequestro e abuso de poder, por ter proibido o desembarque de 147 migrantes resgatados no Mediterrâneo pelo navio da organização Open Arms, em agosto de 2019.

Durante a campanha, chegou a dizer que a Itália era um país mais seguro quando ele estava no poder. Defendeu que os pedidos de asilo passassem a ser realizados em centros de migração no norte de África e não nos países de destino.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas