Televisão estatal do Irão pirateada na sequência dos protestos pela morte de Mahsa Amini

O canal de televisão estatal da República Islâmica do Irão, IRIB, foi alvo de um ataque informático durante uma transmissão em direto de um discurso do líder supremo Ali Khamenei.
Um grupo chamado “Edaalate Ali” reivindicou o ataque que ocupou a imagem da transmissão com uma fotografia do líder iraniano com um alvo na cabeça e, em baixo, fotografias de quatro mulheres mortas no decorrer dos confrontos que o país vive há três semanas, depois de Mahsa Amini, de 22 anos, ter sido detida pela “polícia da moralidade” – e, mais tarde, ter vindo a morrer no hospital – por usar o hijab (lenço) de “forma imprópria”.
Junto com as imagens, que se mantiveram por cerca de dez segundos, aparece a frase “O sangue dos nossos jovens está nas suas mãos”.
O vídeo, partilhado por vários órgãos de comunicação social e jornalistas iranianos, está a ser amplamente partilhado na rede social Twitter.
Este não é o primeiro ataque informático a ocorrer na sequência dos protestos. Dois dos principais sites do governo iraniano foram alvo do grupo ‘Anonymous’, com o objetivo de apoiar os protestos que surgiram no país após a morte de Masha Amini.
Após três dias de pausa, o Irão viveu este sábado outro dia com os protestos que há três semanas vão marcando a atualidade daquele país.
Segundo a agência Efe, nas imediações da prestigiada Universidade Sharif de Teerão, pequenos grupos de jovens e mulheres sem véu juntaram-se e gritaram “Desapareça” ao presidente iraniano, Ebrahim Raisi, enquanto o chefe de Governo visitava o campus universitário.
Vários slogans soaram, no meio de uma forte presença policial, com dezenas de polícias anti-motim na área. “Apoiem-nos, apoiem-nos, polícia!”, gritou uma mulher sem véu nas proximidades do centro universitário, apelando à polícia de choque para que se juntasse aos manifestantes.
Numa atmosfera tensa, algumas pessoas discutiram com a polícia quando o gás lacrimogéneo começou a escurecer as ruas. “Morte à República Islâmica”, gritou um grupo de jovens numa rua lateral da universidade, acrescentando “República Islâmica, nós não te queremos, nós não te queremos”.
Vários protestos ocorreram noutras partes do país, incluindo as cidades de Shiraz, Isfahan, Gohardasht e Kerman, de acordo com vídeos não verificados, partilhados nos meios de comunicação social por ativistas e jornalistas.
Os confrontos foram particularmente fortes no Curdistão iraniano, a região de origem de Amini. A ONG curda Hengaw, com sede em Oslo, relatou fortes confrontos nas cidades de Sanandaj e Saqqqez, nos quais as forças de segurança dispararam contra os manifestantes.
Amini, 22 anos, morreu a 16 de setembro depois de ter sido detida três dias antes, a 13 de setembro, pela chamada “polícia da moralidade” de Teerão, com o fundamento de que usava incorretamente o véu islâmico.
O Instituto de Medicina Legal iraniano disse na sexta-feira – um feriado público – que Amini morreu de uma doença anterior, sem qualquer relação com espancamentos de polícias. Segundo o relatório forense do instituto estatal, a morte deu-se pela falência de múltiplos órgãos após hipoxia cerebral (esgotamento do oxigénio) e não foi “causada por golpes na cabeça e nos órgãos vitais e membros do corpo”.
Mais de 180 pessoas já morreram no Irão, na sequências dos protestos, ao mesmo tempo que centenas de mulheres de outros países têm cortado madeixas de cabelo em solidariedade com a causa.
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