“Escolhe!”. Com este slogan a coligação de esquerda, que compreende o Partido Democrata, os Verdes-Esquerda e o partido +Europa concluiu a campanha eleitoral para as eleições legislativas antecipadas de domingo. Fê-lo na mesma Piazza del Popolo onde na véspera, o tinham feito os quatro partidos da coligação da direita.
O hemiciclo neoclássico projetado pelo arquiteto francês Valadier durante a ocupação napoleónica estava mais repleto de eleitores do que no dia anterior, embora as sondagens vaticinem um resultado oposto. A direita conseguirá 40% dos votos e a esquerda, pouco mais de 20%. Até dia 10, quando ainda se podiam publicar, os estudos de opinião davam conta de 41% de indecisos ou decididos a não votar.
Nos últimos dias Letta, chefe do PD (centro-esquerda) exortou os milhares de voluntários do partido a convencer “um a um, nem que seja só um indeciso”. Assegura que o jogo ainda não acabou. Letta chegou à praça a bordo do furgão elétrico com que se deslocou por todo o país durante a campana. “Outros viajam em jatos privados”, atirou, ironicamente.
“Ele falam do passado, o futuro somos nós”, afirmou o também ex-primeiro-ministro, num discurso de 20 minutos, apoiado pelo estado-maior do PD. Acrescenta que este “é o momento das decisões”.
“O grande projeto dos últimos anos é a Itália do futuro. Pusemos no centro da nossa campanha la luta contra a precariedade laboral e a redução dos impostos sobre o trabalho, enquanto a direita prefere a flat tax, que significa ajudar os ricos e não os fracos”, acusou Letta. Frisa que o PD é “o partido dos direitos e da Constituição” e promete não permitir que a direita altere a Lei Fundamental. É propósito da aliança de Giorgia Meloni, Matteo Salvini e Silvio Berlusconi instituir a eleição direta do Presidente de República e um regime presidencialista, que a maioria dos constitucionalistas considera impossível.
As declarações de Berlusconi
Letta foi muito criticado pela direita por ter ido à Alemanha encontrar-se com o chanceler Olaf Scholz, como que à procura de apoio eleitoral. “Fui a Berlim convencer Scholz de que a Europa tem de encontrar solução para o custo da energia. Eles vão a Budapeste”, afirmou, em referência às amizades de Meloni e Salvini com o primeiro-ministro húngaro Vícktor Orbán.
O último dia da campanha foi afetado por questões internacionais. Berlusconi, de 85 anos, afirmou na televisão que Vladimir Putin “foi empurrado” para a invasão da Ucrânia pelas pressões do seu país e que apenas queria “substituir Zelensky por um Governo de gente decente”. Suscitou aos adversários políticos epítetos como “escandaloso”, “grave”, “fora da graça de Deus”, “um general de Putin”.
O antigo governante tentou justificar-se, horas mais tarde, afirmando que a ideia não fora sua, mas “dita por certas pessoas”. Kiev no demorou a reagir: “Se entendemos bem, Berlusconi confia em Putin e usa o seu exemplo para definir quem é ou não respeitável”, respondeu o Presidente ucraniano a um diário italiano.
O segundo assunto que animou a jornada foram incautas declarações da presidente da Comissão Europeia, a responder na Universidade de Princeton a uma pergunta sobre possíveis problemas para a UE se houver um Governo italiano de direita. “Veremos o resultado das eleições, mas caso se crie uma situação difícil, como no caso da Polónia e da Hungria, temos instrumentos”, avisou Ursula von der Leyen.
Salvini foi ao ponto de convocar uma vigília à porta da delegação da UE em Roma e cobriu a alemã de qualificativos pouco diplomáticos. Meloni, favorita nas sondagens, deitou água na fervura. Outros dirigentes pediram que as instâncias comunitárias se abstenham de intervir nas eleições italianas.
Entrementes, os jovens da organização Fridays for Future manifestavam-se em 70 cidades de Itália. Lamentam que “a crise climática e as soluções para enfrentá-la tenham estado ausentes da campanha eleitoral”. E criticam: “Querem o nosso voto, mas ignoram a nossa voz”.
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