O "fim de uma era" na Suécia: extrema-direita chega ao poder, mas maioria prevê-se instável
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O bloco de centro-esquerda perdeu a maioria para a coligação de direita e extrema-direita, que obteve mais três lugares no Parlamento, graças ao crescimento do partido de extrema-direita Democratas da Suécia. Analistas antecipam um governo frágil e mudanças no rumo do país. A primeira-ministra apresentou demissão
A extrema-direita continua em ascensão na Europa e desta vez, o aumento de popularidade foi visível na Suécia. Espera-se que o próximo primeiro-ministro do país seja Ulf Kristersson, do Partido Moderado. No entanto, não é a moderação que o leva ao cargo, mas antes a coligação que lidera e da qual faz parte o partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD). Com mais de 20% dos votos, tornou-se no segundo mais votado no país.
A ida às urnas foi no domingo, mas a margem de diferença era baixa e os resultados só foram anunciados na noite desta quarta-feira. As eleições foram renhidas: com mais de 99% de boletins de votos contados, a coligação de direita e extrema direita conquistou 176 assentos parlamentares, apenas mais três do que os 173 conseguidos pelo bloco de centro-esquerda.
Magdalena Andersson reconheceu a derrota e esta quinta-feira demitiu-se do cargo de primeira-ministra, mas mantém-se na liderança do partido Social-Democrata, que, apesar de não conseguir formar Governo, foi o partido mais votado.
Num vídeo publicado na rede social Instagram, Kristersson disse que vai começar a formar um novo governo “para toda a Suécia”, noticiou a Reuters. “Há uma grande frustração na sociedade, um medo da violência, preocupação com a economia, o mundo é muito incerto e a polarização política também foi longe demais na Suécia”, disse, acrescentando que quer “unir, não dividir”.
Magdalena Andersson dirige-se ao Parlamento para apresentar a demissão
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Os Democratas da Suécia têm raízes neo-nazis. O partido tentou distanciar-se das origens, nomeadamente ao mudar o logótipo do partido, que era uma tocha azul e amarela e é agora uma flor. No entanto, as medidas anti-imigração mantêm-se no programa: a Reuters assinala que o partido pretende possibilitar a rejeição de pedidos de asilo com base na religião dos requerentes e pertença à comunidade LGBTQ. Além disso, quer dar mais poder à polícia, para permitir buscas sem suspeitas concretas de crimes.
A fragilidade do Governo saído de eleições renhidas
Com uma maioria parlamentar que deixa uma baixa margem de manobra, Kristersson vai ter de manter a unidade da coligação. “É uma formação de Governo muito frágil”, disse o comentador político Tomas Ramberg, da Rádio Suécia, citado pelo Politico. “Há muitas coisas que podem dar a Kristersson noites sem dormir”, observou.
Ao ‘New York Times’, o cientista político Soren Holmberg descreveu que se espera uma situação muito frágil para a democracia parlamentar sueca nos próximos quatro anos”, observando que há claras diferenças políticas dentro da coligação que vão dificultar consensos. O académico Jonas Hinnfors disse ao ‘The Guardian’ que “uma era chegou ao fim”, descrevendo como nas últimas décadas o país cresceu com base em valores liberais, de liberdade individual e de proteção das minorias.
“Dependendo da extensão em que o SD consiga exercer influência, esse desenvolvimento provavelmente chegou ao fim e vamos ver um recuo nalgumas coisas que dávamos por garantidas”, observou.
Jimmie Akesson, líder do partido anti-imigração Democratas da Suécia (SD)
Com a divulgação dos resultados, o líder dos Democratas da Suécia, Jimmie Akesson, escreveu no Facebook que “começa o trabalho para tornar a Suécia boa outra vez”, citou o ‘The Guardian’. “Tivemos demasiadas políticas social-democratas falhadas, que durante oito anos continuaram a levar o país na direção errada. É tempo de começar a reconstruir a segurança, bem-estar e coesão. É tempo de pôr a Suécia primeiro”, comentou.
A vontade de Akesson em integrar o Governo ficou clara quando saíram os resultados parciais: "Se houver uma mudança de poder, teremos uma posição central. A nossa ambição é sentarmo-nos no Governo".
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