Chuvas de monção recordes e glaciares derretidos nas montanhas estão a causar uma das piores cheias alguma vez registadas no Paquistão. Cerca de um terço do país está debaixo de água, e as inundações que se prolongam há semanas — reflexo das alterações climáticas — já causaram mais de 1200 mortes e 6000 feridos nesta nação do sul da Ásia, segundo o balanço mais recente da Autoridade Nacional de Gestão de Catástrofes.
Entretanto, quase 2000 pessoas que ficaram presas nas cheias foram salvas, anunciaram as Forças Armadas do Paquistão esta sexta-feira. “Durante as últimas 24 horas, 1991 indivíduos encalhados foram retirados”, disseram em comunicado, acrescentando que 163 toneladas de material de socorro foram entregues às pessoas afetadas pelas cheias (pelo menos 33 milhões de paquistaneses).
A situação é especialmente preocupante no sul do país, onde se receiam novas inundações após a subida das águas em alguns rios. Das 1208 mortes, mais de 430 correspondem a Sindh, no sul do Paquistão. No distrito de Dadu, nesta região, várias aldeias ficaram submersas e 150 pessoas tiveram de ser retiradas na quinta-feira. “A minha casa está debaixo de água, eu tinha deixado a minha casa há quatro dias com a minha família”, disse Bashir Khan, um residente local, à agência Reuters.
A Organização das Nações Unidas estima que 6,4 milhões de paquistaneses precisam urgentemente de ajuda humanitária. No início da semana, a ONU — juntamente com o Governo do Paquistão — pediu 160 milhões de dólares para ajudar a enfrentar aquilo a que chamou de uma “catástrofe climática sem precedentes”. Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, explicou que o dinheiro se destina a “atividades de socorro imediato para atender às necessidades dos mais vulneráveis”.
“A assistência contínua inclui ajuda alimentar e nutrição, suprimentos e serviços médicos, água potável, apoio à saúde materna, vacinação do gado e abrigo. Além disso, o Fundo Central de Resposta a Emergências da ONU alocou três milhões de dólares para serviços imediatos de saúde, nutrição, alimentos, água, saneamento e higiene para aqueles que mais precisam”, explicou Stéphane Dujarric.
Já foram retiradas cerca de 50.000 pessoas, incluindo 1000 por via aérea, desde o início dos esforços de salvamento, de acordo com as autoridades locais. Vários voos de ajuda humanitária deverão chegar esta sexta-feira de nações do Médio Oriente, como o Qatar e os Emirados Árabes Unidos, informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, citado pela Reuters.
A estação chuvosa que assola o Paquistão há semanas levou o Governo a declarar a situação de calamidade em mais de 50 distritos. As autoridades calculam que mais de um milhão de casas sofreram algum tipo de dano, incluindo mais de 300.000 que foram completamente destruídas. Mais de 735.000 cabeças de gado também foram perdidas e há quase 3500 quilómetros de estradas danificadas.
Só entre junho e agosto, o país recebeu quase 190% mais chuva do que a média dos últimos 30 anos. Está prevista mais precipitação para o mês de setembro, bem como inundações repentinas. Estes fenómenos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes, sobretudo em regiões mais vulneráveis à crise climática.
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