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Casa Branca chama embaixador chinês para criticar manobras militares e Pequim anuncia sanções contra Nancy Pelosi

O porta-aviões americano “USS Ronald Reagan” está na zona onde se concentram as tensões
O porta-aviões americano “USS Ronald Reagan” está na zona onde se concentram as tensões
CATHERINE LAI/AFP/Getty Images

Washington repudia ações militares de Pequim após visita da presidente da Câmara dos Representantes à ilha. Governo chinês anunciou sanções contra Nancy Pelosi

Casa Branca chama embaixador chinês para criticar manobras militares e Pequim anuncia sanções contra Nancy Pelosi

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O gabinete do Presidente dos Estados Unidos da América convocou o embaixador da China no país, quinta-feira, para condenar as ações de Pequim no estreito de Taiwan que se seguiram à visita de Nancy Pelosi à ilha, escreve o jornal “The Washington Post”. A Casa Branca garantiu ao diplomata Qin Gang que não quer uma escalada de violência na região e que a passagem por Taiwan da presidente da Câmara dos Representantes não justifica a reação chinesa.

Na sequência da iniciativa de Pelosi, a China fez exercícios com fogo real, disparando mísseis para o mar, incluindo nas águas territoriais de Taiwan. Segundo a televisão pública chinesa CCTV, foram disparados 11 mísseis balísticos Dongfeng. Cinco deles atingiram a zona económica exclusiva do Japão, segundo o Governo deste país.

Já esta sexta-feira, mísseis chineses sobrevoaram Taiwan. O professor Meng Xiangqing, da Universidade de Defesa Nacional, ligada ao Exército Popular de Libertação chinês, explicou à televisão pública chinesa CCTV que “foi a primeira vez que cruzaram a ilha” e incluíram fogo real. A agência oficial chinesa Xinhua refere “mais de 100 aviões de guerra” usados na operação.

Sanções contra Pelosi e familiares

A China também anunciou sanções contra Pelosi e a sua família próxima. No ano passado fizera o mesmo com Mike Pompeo, o então secretário de Estado (equivalente a ministro dos Negócios Estrangeiros) dos Estados Unidos. Este não visitou a ilha enquanto foi governante, mas defendeu o seu reconhecimento como “nação livre e soberana”.

Eis os argumentos de Pequim, citados pela agência Reuters: “Apesar das sérias preocupações e da firme objeção da China, Nancy Pelosi insistiu em visitar Taiwan, interferindo gravemente nos assuntos internos da China, minando a soberania e a integridade territorial chinesas, espezinhando a política de uma só China e ameaçando a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan”.

Washington quer manter diálogo

“Após as ações da China à noite, convocámos o embaixador Qin Gang à Casa Branca para protestarmos pelas ações provocatórias da República Popular da China”, anunciou num comunicado John Kirby, porta-voz da presidência americana. “Condenámos as ações militares da República Popular da China, que são irresponsáveis e contradizem o nosso objetivo de há muito de manter a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan.”

Washington indicou ao embaixador chinês — através de Kurt Campbell, assessor de Joe Biden para assuntos do Indo-Pacífico — que pretende manter a comunicação bilateral e que a política de apoiar uma única China não foi abandonada. Ainda assim, considera inaceitáveis as ações de Pequim e planeia continuar a fazer transitar pelo estreito os seus navios. Kirby anunciou “outras medidas” concertadas com aliados como o Japão. Perto da ilha encontra-se o porta-avoões “USS Ronald Reagan”, sempre vigilante, lembrou o porta-voz da Casa Branca.

Pequim considera Taiwan parte do seu território e o Presidente chinês, Xi Jinping, pretende a reunificação mais cedo do que tarde, preferivelmente por meios pacíficos, mas sem excluir outros. Xi é o mais poderoso chefe de Estado chinês das últimas décadas e prepara-se para ser reconduzido num inédito terceiro mandato quando o Partido Comunista da China realizar o seu congresso no próximo outono.

A Casa Branca afirma ter sublinhado perante o embaixador chinês a declaração do G7 (que junta as democracias mais industrializadas do mundo), que exorta Pequim a não usar a viagem de Pelosi como pretexto para agredir Taiwan. Também a Associação de Nações do Sueste Asiático (ASEAN) apelou ao diálogo para aliviar tensões.

Biden não queria que Pelosi fosse a Taiwan

O porta-voz de Biden frisou o compromisso de defender Taiwan de uma putativa invasão. “Deixámos claro que os Estados Unidos estão preparados para o que Pequim escolher fazer. Não procuraremos nem queremos uma crise, mas não seremos dissuadidos de atuar nos mares e nos céus do Pacífico Ocidental, nos termos do direito internacional, como fazemos desde há décadas, apoiando Taiwan e defendendo um Indo-Pacífico livre e aberto.”

A visita de Pelosi não foi do agrado de Biden, apesar de serem companheiros no Partido Democrata. No entanto, a veterana congressista, enquanto dirigente da câmara baixa do ramo legislativo e terceira figura do Estado, tem independência do Presidente, que encabeça o ramo executivo. A oportunidade da viagem foi questionada num tempo de guerra na Ucrânia, em que Washington se esforça por persuadir Pequim a cooperar para travar a agressão russa.

“Podem tentar impedir Taiwan de visitas ou participação noutros lugares, mas não isolarão Taiwan”, aviou Pelosi, que visitou Singapura, Malásia, Coreia do Sul e Japão durante a viagem e foi condecorada pela Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, de tendência independentista. “Não são eles quem faz o nosso calendário de viagens. Isso não cabe ao Governo chinês.”

Pequim esforça-se por impedir laços diplomáticos entre Taiwan e qualquer outra nação. A ilha de 23 milhões de habitantes funciona na prática como um país independente e democrático, mas goza de escassíssimo reconhecimento internacional.

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