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Nancy Pelosi vai mesmo visitar Taiwan: a China pode não reagir com uma intervenção militar, mas espera-se uma “demonstração de força”

Nancy Pelosi vai mesmo visitar Taiwan: a China pode não reagir com uma intervenção militar, mas espera-se uma “demonstração de força”
Alberto Buzzola / Getty Images

A Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América vai mesmo visitar Taiwan, apesar dos avisos de Pequim e da própria Casa Branca não gostar da ideia. Taiwan prepara-se para uma guerra, mas é "improvável" que este episódio seja o rastilho de um conflito militar. No entanto, o investigador José Tavares da Silva avisa: “A paciência chinesa é muita, mas pode esgotar-se em breve"

Nancy Pelosi vai mesmo visitar Taiwan: a China pode não reagir com uma intervenção militar, mas espera-se uma “demonstração de força”

Tiago Soares

Jornalista

No âmbito de uma série de visitas oficiais a países asiáticos, Nancy Pelosi aterrou esta manhã na Malásia com o próximo destino já decidido. Ao que tudo indica, a Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América está neste momento a voar em direção a Taiwan – isto apesar dos avisos da China, que considera sua esta pequena ilha no Pacífico.

“O Exército de Libertação Popular nunca irá ficar de braços cruzados. A China vai tomar medidas fortes para salvaguardar a soberania e integridade do seu território”, disse esta segunda-feira fonte oficial do ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, avisando para as “consequências” que a visita teria para a paz naquela região do globo.

“Pelosi é uma mulher muito determinada e já enfrentou o poder de Pequim no passado. Acho que agora já não pode recuar”, diz Jorge Tavares da Silva, especialista nas relações internacionais entre China e Taiwan e professor na Universidade de Aveiro. Como congressista em 1991, Pelosi visitou a Praça de Tiananmen e homenageou as vítimas do massacre levado a cabo pelo regime chinês dois anos antes.

Esta iniciativa de Pelosi contrasta com a posição mais recente de Joe Biden. Pressionado pela crise económica, o presidente norte-americano tem moderado o discurso em relação à China nas últimas semanas: em maio garantiu que os EUA iriam dar apoio militar a Taiwan caso Pequim invadisse, mas esclareceu pouco depois que não estava a pôr em causa o princípio de uma só China – ou seja, que territórios como Macau, Hong Kong ou Taiwan fazem todos parte de uma única nação.

Inicialmente, Biden citou informações militares para afirmar que a visita “não é uma boa ideia neste momento.” O inquilino da Casa Branca ficou numa posição sensível depois das declarações terem sido tornadas públicas, ficando à mercê de uma imagem de descoordenação política com Pelosi. E tendo em conta a guerra na Ucrânia, este impasse tem um “efeito de contágio” a nível global, acrescenta Tavares da Silva. Esta terça-feira, o Kremlin veio defender Pequim: os EUA estão a “provocar” a China, criticou a Rússia.

“Não brinquem com o fogo”, terá avisado o Presidente chinês Xi Jinping durante uma conversa telefónica de mais de duas horas com Biden, na semana passada. Pequim tem mais de mil mísseis apontados à pequena ilha que garantem controlar, e já começou a fazer exercícios militares na costa oposta a Taiwan. As forças militares de Tapei responderam, colocando o território no nível de alerta máximo: estão a “preparar-se para uma guerra”, apontam jornais locais.

A visita norte-americana coloca Taiwan numa posição “desconfortável”. “É o elo mais fraco no meio disto tudo”, sinaliza Tavares da Silva. O governo atualmente no poder tem tendências independentistas e é mais hostil a Pequim que executivos passados – e por isso pode sair prejudicado politicamente com este episódio, diz o especialista, dado que mais de 80% da população de Taiwan quer manter o status quo em relação à China, mostra uma sondagem recente da Universidade Nacional de Chengchi.

Tavares da Silva acredita que Pequim vai ter uma resposta forte à visita de Pelosi, mas afasta a possibilidade de uma escalada bélica – pelo menos para já. “A China vai reagir com uma retórica agressiva, mas não me parece expectável que avance agora para uma resposta militar”, diz o perito, lembrando que o país ainda não ultrapassou a covid-19 e tem a economia em queda.

Por outro lado, Pequim tem ameaçado bastante nos últimos anos e Xi Jinping já deixou claro que quer resolver a situação de Taiwan de uma forma ou de outra – e “não pode mostrar fraqueza”. O Presidente chinês tem reforçado os seus poderes e o 20º congresso do Partido Comunista Chinês é já em outubro: “A paciência chinesa é muita, mas pode esgotar-se em breve. A solução militar nunca vai ser retirada de cima da mesa”, resume Tavares da Silva.

Uma coisa é certa: a China quer Taiwan totalmente isolado a nível internacional, e sem representação diplomática e institucional. “Tudo isto enerva Pequim. Desta vez é expectável que tudo passe apenas com demonstrações de força, mas vai depender muito das palavras usadas por Pelosi. Se tiver um discurso bastante agressivo contra Pequim, a situação pode ficar ainda mais tensa”, conclui o especialista.

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