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Boris Johnson acha que volta ao poder já para o ano, diz antigo assessor do primeiro-ministro britânico

Boris Johnson será primeiro-ministro até 5 de setembro... “por agora”
Boris Johnson será primeiro-ministro até 5 de setembro... “por agora”
Leon Neal/Getty Images
Publicação na rede social surge em simultâneo com petição que defende que Johnson seja incluído no boletim de voto da eleição para líder do Partido Conservador, ao lado de Liz Truss e Rishi Sunak. Dirigentes tories temem ruído que prejudique imagem do futuro chefe do Governo
Boris Johnson acha que volta ao poder já para o ano, diz antigo assessor do primeiro-ministro britânico

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O “hasta la vista, baby” com que Boris Johnson se despediu dos deputados no último debate semanal, quarta-feira, é capaz de poder ser tomado à letra. A crer num antigo assessor do primeiro-ministro do Reino Unido, este acredita que voltará ao poder em 2023. Ganha novo sentido o balanço que fez, na Câmara dos Comuns, de três anos de Governo: “Missão largamente cumprida… por agora”.

Tim Montgomerie, que passou de colaborador a crítico de Johnson, escreveu na rede social Twitter que “Boris diz aos assessores que voltará a ser primeiro-ministro dentro de um ano”. Segundo o jornalista Christopher Hope, editor de política do diário “The Telegraph” (de inclinação conservadora), Montgomerie tem “boas fontes”. Cerca de duas semanas antes da queda do primeiro-ministro, previra que este não duraria até às legislativas.

A publicação surge ao mesmo tempo que um aliado do governante demissionário — que anunciou a saída a 7 de julho, espoletando uma eleição interna no Partido Conservador — exige que os militantes tenham a opção de escolher Johnson em vez de um dos finalistas na corrida à sua sucessão, Rishi Sunak e Liz Truss.

Quase 8000 querem Boris no boletim de voto

Quase 8000 militantes tories assinaram uma petição nesse sentido, lançada por Peter Cruddas, membro da Câmara dos Lordes nomeado por Johnson (que para tal ignorou a recomendação negativa do comité de ética daquela câmara alta do Parlamento). Cruddas diz que a iniciativa tem o apoio de deputados.

Michael Fabricant, um dos membros da bancada mais próximos do ainda primeiro-ministro, diz que “caso achasse que Boris estava entusiasmado em continuar, apesar da traição dos seus ministros, apoiaria campanha de Peter Cruddas num piscar de olhos”. Na sua opinião, os membros do Executivo que se demitiram na sequência de um escândalo sexual com o deputado que Johnson nomeou vice-presidente do grupo parlamentar “tresleram claramente o sentimento dos militantes do partido nesta e em muitas outras matérias”.

Cruddas argumenta que “em 2019, Boris Johnson foi eleito pelos militantes” e que “agora essa escolha foi alterada sem consultar as pessoas que o elegeram, os militantes leais e trabalhadores do Partido Conservador”. O partido respondeu que as regras já estavam definidas e que a eleição interna só foi desencadeada por Johnson ter anunciado a demissão.

O diário “The Telegraph” ouviu um ministro próximo do chefe do Executivo que exprimiu apreço pela petição, descrevendo o estado do partido como de “desespero e incredulidade completas”, pois “as bases sentem que as suas vozes foram abafadas por uma minoria no grupo parlamentar”, a quem acusa de fazer isso mesmo “ano após ano, década após década”.

Risco de ruído ao estilo de Trump

O gabinete do primeiro-ministro recusou-se a comentar as palavras de Montgomerie e a petição de Cruddas. Há no partido quem tema que este assunto seja ruído contraproducente quando a concentração devia estar na escolha entre Sunak e Truss, prejudicando a imagem de ambos no país.

Robert Buckland, ministro para o País de Gales e antigo titular da pasta da Justiça, afirmou: “O primeiro-ministro demitiu-se voluntariamente. Não tem qualquer papel nesta corrida à liderança. Não é candidato”. A seu ver, o importante é “unir o partido e vencer as próximas eleições sob um novo líder”.

O deputado Steve Baker, antigo secretário de Estado do Brexit, concorda e alerta que alimentar a ideia de Cruddas transmitirá uma imagem semelhante à do ex-Presidente americano Donald Trump ao não aceitar os resultados das presidenciais de 2020, que o afastaram da Casa Branca.

“Imploro aos militantes que apoiam esta campanha que pensem no que aconteceria se vencessem e Boris continuasse como primeiro-ministro”, apelou Baker, que apoia Truss na eleição. “O Governo desfazia-se imediatamente”, previu, descrevendo um cenário de “desastre trumpiano de governo disfuncional”.

Boris que “rebente esta bolha”

Referindo-se aos ministros que entraram para o Executivo após a crise que levou Johnson a renunciar (Buckland é um deles), frisa que este “só pôde formar Governo por se ir embora”. Espera, pois, que o visado “rebente esta bolha” e “agradeça a Lorde Cruddas o seu apoio, mas confirme que precisa mesmo de dar lugar a outros”, uma vez que “a estabilidade política do Reino Unido depende disso”.

Depois de cerca de 50 deputados conservadores terem almoçado com o chefe de Governo, domingo passado, na residência de férias de Chequers, há no partido quem receie uma vaga de apoio a Cruddas que complique o processo de escolha do sucessor em curso.

Truss e Sunak são os finalistas numa eleição que começou com oito candidaturas oficiais. O grupo parlamentar reduziu-as a duas em rondas de votação sucessivas e agora a palavra está com os militantes, que até 2 de setembro votarão por via postal ou digital. O vencedor será conhecido passados três dias, tornando-se chefe do partido e do Governo de Sua Majestade.

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