O primeiro-ministro italiano anunciou esta quinta-feira que vai apresentar a demissão. Mario Draghi renunciará à chefia do Governo, à noite, devido à quebra da vasta coligação que o sustentava, explicou o seu gabinete em comunicado. Fá-lo-á numa reunião com o Presidente Sergio Mattarella, menos de ano e meio após ter tomado posse, em fevereiro de 2021.
A queda do Executivo é precipitada pelo Movimento Cinco Estrelas (M5S), um partido populista que boicotou esta quinta-feira a votação de uma moção de confiança. Em causa estava um pacote de medidas para ajudar os italianos a suportar o aumento do custo de vida.
“A maioria de unidade nacional que sustentou este Governo desde a sua criação já não existe. O pacto de confiança subjacente à ação governativa falhou”, disse o demissionário aos seus ministros.
Draghi é apoiado por forças tão díspares como a Liga (direita radical), o Partido Democrata (centro-esquerda), a Força Itália (conservadora), o Itália Viva (esquerda liberal), o Artigo Um (social-democrata) e o Juntos pelo Futuro (centro). A saída do M5S não põe em causa a maioria absoluta, mas o primeiro-ministro anunciara que se demitiria se perdesse o seu apoio.
Crise política muito inoportuna
Perante a renúncia, o chefe de Estado poderá pedir a Draghi — antigo presidente do Banco Central Europeu — que forme novo Executivo, após conversa com os partido seus aliados ou mesmo procurando outros. Se não for possível, o país pode ir para eleições antecipadas, mas estas só podem realizar-se 45 dias depois de o Presidente dissolver o Parlamento. O período de férias de verão não é, de todo, propício a uma ida às urnas, mas atrasá-la põe em causa a elaboração do orçamento de Estado.
A crise política surge no pior momento, com a crise do custo de vida a assolar a Europa e a Itália a sofrer particularmente com o aumento dos preços da energia, agravados pela guerra na Ucrânia e pela limitação da exportação de gás russo, além de seca extrema que motivou a declaração do estado de emergência. Draghi estava comprometido com reformas que a União Europeia lhe exigiu para o país beneficiar dos fundos de recuperação.
Apesar de unidos no Executivo, os partidos italianos iriam sempre disputar eleições no início de 2023. A decisão do M5S e a reação de Draghi trazem incerteza ao país. O próprio partido populista sofreu uma cisão recente, com o antigo vice-primeiro-ministro Luigi DiMaio a sair para formar o Juntos pelo Futuro.
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