Internacional

Israel vai a eleições pela quinta vez em três anos e meio: vem aí 'Bibi' outra vez?

Naftali Bennett
Naftali Bennett
ABIR SULTAN/Getty Images

Os parceiros da coligação que governa Israel não estão a conseguir encontrar caminhos comuns e por isso, já na próxima semana, deverá ser submetida ao Parlamento (Knesset) uma proposta para dissolução do mesmo. Entretanto, o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pode estar de regresso como um garante para a estabilidade governativa

É o 36º Governo de Israel, quinto em três anos, e parece que também este vai chegar ao fim a breve trecho. O primeiro-ministro, Naftali Bennett, e Yair Lapid - que é atualmente ministro dos Negócios Estrangeiros mas que vai agora passar para a cadeira de Bennett, de acordo com o sistema de rotação de cargos que havia sido acordado quando ambos formaram governo - informaram esta segunda-feira, através de um comunicado conjunto, a intenção de desmembrar a coligação que já mal os unia. Lapid, porém, só vai ser primeiro-ministro até às eleições, previstas para outubro ou novembro.

Bennett teve um ano para gerir uma tapeçaria de ideologias muito dispersas - e já quando assumiu o cargo muitos foram os analistas a avisar que Israel estaria de novo a organizar eleições pouco tempo depois. As deserções deixaram a aliança em ruínas, sem maioria no Parlamento por mais de dois meses, e o problema que se coloca é simples: não tem sido possível governar sem maioria, até porque, em Israel, as últimas coligações têm sido desenhadas com maiorias ínfimas, o que torna qualquer turbulência, qualquer animosidade, qualquer abandono de cargo um enorme problema.

O principal beneficiário deste desentendimento é Benjamin Netanyahu, ex-primeiro-ministro e agora o líder da oposição, que está a subir nas sondagens e aparece, no meio da instabilidade, como alguém em quem a maioria dos israelitas parece estar de novo preparada para confiar a chefia dos destinos do país. Mas podemos estar perante um clássico caso de memória curta, já que também os governos de Netanyahu caíram.

Segundo uma sondagem da Kan Tv, publicada no “Times of Israel”, uma “coligação” entre o partido de Netanyahu, Likud, o Partido do Sionismo Religioso e os dois partidos ultraortodoxos (Shas e Judaísmo Unido da Torá) pode conseguir 59 a 60 assentos - à beira de uma maioria. A mesma sondagem mostra que o Sionismo Religioso, abertamente anti-árabe, pode conseguir 10 assentos, e ultrapassar o Yamina, do atual primeiro-ministro Bennett, como a principal força da direita religiosa isto porque é de prever que Bennett seja penalizado por tentar forjar parcerias com partidos que se situam nos antípodas ideológicos do Yamina.

As reivindicações dos árabes presentes na coligação têm sido um ponto de fricção constante, já que apesar de oficialmente terem os mesmos direitos, muitos árabes residentes em Israel (são cerca de 20% da população) queixam-se de discriminação.

Em maio, e apesar de ter depois regressado às fileiras do seu partido no Knesset, uma deputada árabe do partido de esquerda Meretz, Ghaida Rinawie Zoabi, renunciou ao cargo, utilizando o quase-colapso da coligação para chamar atenção para as condições de vida dos cidadãos árabes, maioritariamente palestinianos, acusando os líderes do Governo de defender “posturas rígidas e de direita em relação a questões básicas de extrema importância para a sociedade árabe”. Muitos apoiantes do Meretz consideram a coligação uma tragédia para o partido, já que as posições de Naftali Bennett são de um ala da direita bastante dura, totalmente oposta a qualquer negociação com os palestinianos.

Zoabi disse na altura que foi influenciada por eventos recentes, incluindo o funeral em Jerusalém da repórter da Al Jazeera Sherine Abu Akleh, morta com um tiro enquanto trabalhava na cidade de Jenin, na Cisjordânia ocupada. Vários ativistas acusam os soldados israelitas de terem disparado, mas Israel nega qualquer envolvimento. Uma investigação recente do “New York Times” parece mostrar que a bala veio de um ajuntamento de tropas israelitas perto do local.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate