Num célebre ensaio de 1957, “The King’s Two Bodies”, o medievalista Ernst Kantorowicz analisou a doutrina dos dois corpos do rei, nos termos da qual os monarcas têm um corpo físico, sujeito aos acidentes da natureza e às contingências da fortuna, e um corpo político, intangível e eterno, alheio às vicissitudes da vida terrena, em que a idade adulta sucede à infância, seguindo-se o envelhecimento e a morte. Trata-se de uma emanação da teologia do Corpo de Cristo e, por isso, não é ao acaso que, nos mosaicos bizantinos da abside da Basílica de San Vitale, em Ravena, consagrada no ano 547, vemos Justiniano e Teodora com um halo a rodear-lhes as imperiais cabeças, como se fossem santos ou representantes de Deus, vigários do transcendente.
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