Onde está Irma Galindo? Amigos e familiares desesperam pela falta de notícias da ambientalista, conhecida por defender a floresta do estado mexicano de Oaxaca, e de quem não sabem há mais de 15 dias. A última chamada foi feita a uma amiga, no dia 27 de outubro, e a mensagem só reforça a preocupação: “Sentia algum medo, tinha recebido uma ameaça, mas não deu mais detalhes”.
Irma, de 38 anos, tem sido uma voz contra a exploração ilegal de madeira e já sofreu represálias por isso. Em 2019, depois de fazer uma denúncia oficial à Procuradoria Federal do Meio Ambiente, à Secretaria do Meio Ambiente e à Comissão Nacional Forestal, viu a sua casa ser queimada por um comando armado, que, aliás, destruiu várias outras casas de ativistas.
Por temer pela vida, abandonou então San Esteban Atatlahuaca. Nessa altura chegou a ser dada como desaparecida, até se perceber que tinha saído do México. Mas voltou. “Não tenho porque esconder-me, não estou a fazer nada de errado, estou a defender uma floresta que ajuda as nossas comunidades”, justificou num vídeo publicado pela organização Voz da Justiça, em dezembro de 2020, e citado pelo “El Pais”.
O seu desaparecimento é tanto mais preocupante pelo facto de Irma Galindo ser esperada, a 29 de outubro, no Conselho do Governo para a Proteção de Defensores dos Direitos Humanos e Jornalistas, na Cidade do México, encontro a que faltou.
Situação “comum” deixou-a sem proteção
A verdade é que a ambientalista não deixou de se manifestar publicamente, apesar das ameaças, correndo riscos por conta própria, sem qualquer proteção por parte do Estado, como sublinhou uma responsável da Rede Nacional de Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos no México. A organização lembra que a situação de Irma foi considerada “comum”, o que significa o entendimento de que a sua vida “não corre perigo”.
Os que lhe são mais próximos sabem que não é assim. Irma desempenhou diversas funções como gestora cultural e curandeira, fruto da sua origem indígena, mas foi o seu ativismo que a tornou um alvo mais que previsível, fazendo-a somar inimigos. Apontou publicamente o dedo a todos os que julga responsáveis pela desflorestação ilegal, sejam titulares de cargos oficiais, como o presidente da autarquia, ou cidadãos envolvidos no negócio, como o seu próprio tio. A Rede Nacional de Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos do México chegou a dar-lhe algum apoio em termos de segurança, mas Aurora de la Riva, co-presidente da organização, sabe que não era suficiente.
No dia 27 de outubro, dois dias antes da reunião marcada na cidade do México, Irma Galindo foi vista numa praça da capital junto a outras dezenas de manifestantes, empunhando um cartaz contra os madeireiros. O protesto foi convocado depois de a sua comunidade ter sofrido nova onda de violência, que custou a vida a sete pessoas e obrigou 25 famílias a abandonarem as suas casas em Atatlahuaca.
Aurora de la Riva diz ter perdido a esperança de a encontrar viva, até por saber que as primeiras 72 horas são cruciais nos casos de desaparecimento. No comunicado emitido pela organização que representa, é exigida às autoridades mexicanas “uma investigação rápida e independente”, que permita encontrar Irma Galindo viva. É dirigido também um apelo à comunidade internacional “e aos nossos aliados”, para que “permaneçam vigilantes perante esta situação e nos ajudem a exigir que Irma apareça viva”.
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