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Relatório do senado brasileiro diz que Bolsonaro deve ser acusado de homicídio pela sua gestão da pandemia

Familiares das vítimas suspeitas de terem morrido por covid-19 junto às valas comuns abertas no contexto da pandemia, em Manaus, Brasil
Familiares das vítimas suspeitas de terem morrido por covid-19 junto às valas comuns abertas no contexto da pandemia, em Manaus, Brasil
MICHAEL DANTAS

Documento redigido por grupo de senadores diz que inação do Presidente resultou na morte de 300 mil cidadãos por covid-19. Bolsonaro é ainda responsabilizado por “crimes contra a humanidade” e genocídio da população indígena. Outras 69 pessoas são acusadas de crimes

Relatório do senado brasileiro diz que Bolsonaro deve ser acusado de homicídio pela sua gestão da pandemia

Tiago Soares

Jornalista

Um relatório do Senado brasileiro recomenda que o Presidente Jair Bolsonaro seja acusado de homicídio pela sua gestão da pandemia de covid-19 no país. O documento ainda pode ser alterado pelos senadores, uma vez que só vai ser votado na próxima semana, mas uma primeira versão com mais de mil páginas foi publicada esta terça-feira de tarde por vários órgãos de comunicação social brasileiros.

Os senadores argumentam que a decisão “deliberada e consciente” de Bolsonaro de atrasar a compra de vacinas contra o vírus levou à morte evitável de cerca de 300 mil cidadãos. A covid-19 matou mais de 600 mil brasileiros até agora.

“A matemática da situação era clara: quanto mais infeções, mais mortes. Sem vacinas a mortalidade seria estratosférica, tal como se veio a verificar”, sublinham os autores do documento, antes de concluírem: “Nunca esqueceremos”.

“Muitas das mortes eram evitáveis”, disse Renan Calheiros, senador e principal autor do relatório, numa entrevista concedida segunda-feira. “Estou pessoalmente convencido de que ele [Bolsonaro] é responsável por amplificar o massacre”, apontou.

O relatório foi escrito por um número diminuto de senadores após uma investigação que durou seis meses e incluiu diversas audições no Senado. O documento mostra que Bolsonaro publicitou o medicamento Hidroxicloroquina muito tempo depois de estar provado cientificamente que este não era eficaz para tratar a covid-19. Além disso, o governo ignorou mais de 100 emails da Pfizer, atrasando por um mês a distribuição de vacinas no Brasil.

Bolsonaro é ainda acusado de “crimes contra a humanidade” e genocídio da população indígena na Amazónia, onde milhares de pessoas morreram durante meses depois dos hospitais ficaram sem reservas de oxigénio. Além de Bolsonaro, é ainda recomendado que outras 69 pessoas sejam acusadas de crimes - incluindo três filhos do atual Presidente e vários ex-funcionários do governo federal.

Se o relatório for aprovado, a Procuradoria-Geral da República terá 30 dias para decidir se vai acusar o Presidente e restantes responsáveis destes crimes - sendo que o Congresso brasileiro teria de aprovar as acusações feitas a Bolsonaro. O atual procurador-geral foi nomeado por Bolsonaro e o congresso é composto na sua maioria por deputados que apoiam o Presidente.

Segundo Renan Calheiros, caso a Procuradoria-Geral da República não avance com acusações a Bolsonaro, o grupo do senado responsável pelo relatório vai procurar outras vias judiciais - nomeadamente o Supremo Tribunal Brasileiro e o Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, em Haia.

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