Desde o regresso ao poder que os talibãs têm tentado mostrar uma atitude mais moderada, com promessas de Governo inclusivo (embora se espere o estabelecimento de um emirado islâmico). Mas não é líquido que sejam essas as reais intenções do grupo que tomou o poder no Afeganistão, depois de uma ofensiva militar-relâmpago que apanhou de surpresa a comunidade internacional. As últimas notícias dão mesmo conta de que a abertura talvez não passe mesmo de um engodo: este sábado, os talibãs — que na sua última passagem pelo poder, de 1996 a 2001, lideraram com mão de ferro o país — reprimiram de forma violenta um protesto que reunia uma centena de mulheres na capital, Cabul.
De acordo com as informações recolhidas pelo jornal norte-americano "The New York Times", várias das mulheres que exigiam inclusão num futuro governo talibã disseram ter sido espancadas por combatentes. Os militantes tentaram dispersar a multidão e impedir que as pessoas no local filmassem a cena com os seus telemóveis, segundo imagens divulgadas nas redes sociais. Ao telefone a partir da capital afegã, uma jovem participante de 24 anos disse ter sido usado gás lacrimogéneo, coronadas e tacos ou ferramentas de metal.
ANÚNCIO DE GOVERNO ADIADO
Este sábado, os talibãs voltaram a adiar o anúncio do seu Governo, cuja composição deverá dar o tom para os próximos anos no Afeganistão. Quase três semanas após o retorno ao poder do grupo, tanto a população afegã como a comunidade internacional continuam à espera que seja anunciado quem vai governar em Cabul.
A decisão de um novo adiamento poderá dever-se à situação em Panshir, último reduto de oposição armada ao novo regime, onde este continua a enfrentar resistência armada na província de Panshir. O bastião anti-talibã — situado num vale sem litoral e de difícil acesso localizado a cerca de 80 quilómetros a norte da capital — tem vindo a ser palco de combates entre as forças talibãs e Frente Nacional de Resistência (FNR), desde a última segunda-feira.
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