Guerra do Afeganistão não é mais dos Estados Unidos: Biden não vai “repetir os mesmos erros do passado”
Joe Biden tomou posse como Presidente dos Estados Unidos da América a 20 de janeiro de 2021
CARLOS BARRIA/REUTERS
Com o Afeganistão controlado pelos talibãs, o presidente dos EUA afirmou que "é errado ordenar às tropas americanas que se mobilizem quando as próprias forças armadas do Afeganistão não o fazem". Numa declaração feita esta segunda-feira à noite em direto da Casa Branca, Joe Biden defendeu a retirada das tropas do Afeganistão e lembrou que a principal missão dos Estados Unidos foi travar a Al-Qaeda, nunca foi "criar uma nação"
Numa declaração de 20 minutos, Joe Biden abordou uma guerra que se arrasta há 20 anos. O presidente norte-americano interrompeu as férias para regressar mais cedo à Casa Branca e prestar declarações sobre a atual situação no Afeganistão. No final, a mensagem foi clara: Biden não vai repetir os mesmos erros do passado. "Não posso e não vou pedir às nossas tropas que continuem a lutar sem fim na guerra civil de outro país".
Rapidamente os talibãs tomaram controlo de várias cidades afegãs e chegaram à capital, Cabul, este domingo, num avanço mais célere do que o esperado, reconheceu o presidente dos Estados Unidos. "A verdade é que isto se desenrolou mais rapidamente do que tínhamos previsto", disse, falando no "colapso rápido" do Governo afegão.
Mas nem assim Biden voltou atrás na decisão da retirada das tropas americanas do Afeganistão, em maio. Aliás, o presidente norte-americano vincou agora essa posição: "Estou totalmente de acordo com a minha decisão. Após 20 anos, aprendi da maneira difícil que nunca houve uma boa altura para retirar as tropas dos EUA", acrescentou.
Logo no início do discurso, Biden lembrou qual é que foi a principal missão dos EUA no país — travar a Al-Qaeda. “Fomos para o Afeganistão há quase 20 anos com objetivos claros: apanhar aqueles que nos atacaram a 11 de setembro de 2001 e garantir que a Al-Qaeda não pudesse usar o Afeganistão como uma base para nos atacar outra vez. Fizemos isso”.
Biden foi taxativo: afirmou que a missão dos EUA nunca foi construir uma nação no Afeganistão ou criar uma democracia central unificada lá. O único interesse nacional permanece o que sempre foi: a prevenção de um ataque terrorista à pátria americana.
Por todos estes motivos, Biden não vai continuar a sacrificar o povo americano a uma guerra que já não é sua, aliás recusa-se mesmo. As duas opções que tinha eram seguir a decisão da retirada das tropas ou então lutar contra os talibãs e sujeitar a América a uma terceira década de combate. Biden prefere a primeira.
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"É errado ordenar às tropas americanas que se mobilizem quando as próprias forças armadas do Afeganistão não o fazem. Quantas mais gerações de filhas e filhos da América tenho de mandar combater na guerra civil do Afeganistão quando as tropas afegãs não o fazem?", perguntou retoricamente.
Durante a declaração de quase 20 minutos e sem direito a perguntas dos jornalistas, o presidente criticou também a falta de resiliência e a desistência de líderes políticos e militares afegãos. "Os líderes políticos do Afeganistão desistiram e fugiram do país. Os militares afegãos entraram em colapso, alguns sem tentarem lutar. Os acontecimentos da semana passada reforçaram que o fim do envolvimento militar dos EUA no Afeganistão, agora, foi a decisão certa", afirmou.
Por isso, Biden conclui que as tropas americanas não podem e não devem lutar numa guerra e morrer numa guerra que as forças afegãs não estão dispostas a lutar por si próprias. "Não vou repetir os mesmos erros do passado".
Biden ameaça talibãs com "força devastadora se necessário"
Os talibãs não devem interferir com o processo de evacuação organizado pelos Estados Unidos no Afeganistão, ameaçou Biden. A resposta será "rápida e poderosa" se as forças atacarem o pessoal norte-americano ou perturbarem a operação no terreno. "Defenderemos o nosso povo com força devastadora, se necessário", avisou.
Para resumir a mensagem final, no discurso em direto da Casa Branca, o presidente lembrou que a atual missão militar dos EUA é bem delineada. Passa por trazer os cidadãos e os aliados americanos tão segura e rapidamente quanto possível. "Uma vez concluída esta missão, concluiremos a nossa retirada militar. Acabaremos com a guerra mais longa da América, após 20 longos anos de derramamento de sangue", terminou.