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Os cientistas nunca fizeram um aviso tão sério sobre a temperatura do planeta: o que está em causa, porquê e como evitá-lo

Os cientistas nunca fizeram um aviso tão sério sobre a temperatura do planeta: o que está em causa, porquê e como evitá-lo
China Photos/Getty Images

Os cientistas avisaram e não vão fazê-lo de novo porque depois já será demasiado tarde: é preciso uma redução “imediata, rápida e em larga escala” dos gases com efeitos de estufa ainda durante esta década. Os avisos nunca foram tão sérios

Os cientistas nunca fizeram um aviso tão sério sobre a temperatura do planeta: o que está em causa, porquê e como evitá-lo

Helena Bento

Jornalista

O aviso

Há vários avisos na verdade, mas talvez o mais importante seja que dentro de duas décadas é provável que as temperaturas aumentem mais de 1,5 graus Celsius, valor fixado no Acordo de Paris. A manter-se o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa, a temperatura global irá subir 2,7 graus em 2100. Outro alerta, feito igualmente pelos cientistas que contribuíram para o sexto relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgado esta segunda-feira: o aumento das temperaturas será mais rápido do que o previsto no relatório do mesmo organismo publicado há três anos. Isto porque os oceanos e as florestas estão a perder a capacidade de absorver e capturar o dióxido de carbono da atmosfera e reduzir a presença deste composto no ar.

Os cinco cenários (nenhum é bom)

As expectativas são as acima descritas mas na verdade há cinco cenários possíveis. Se as emissões de gases com efeitos de estufa começarem a diminuir entretanto, poderemos chegar a 2050 com zero emissões e, assim, fixar o aquecimento global em cerca de 1,5ºC até o fim do século — escusado será dizer que este é o cenário mais otimista. Há um cenário intermédio, em que as emissões se mantêm nos níveis atuais (atingindo-se nesse caso um aumento de temperatura de 1,5 graus até 2040) e dois mais pessimistas, em que as emissões podem duplicar em relação aos valores atuais e a temperatura global aumentar 2 graus até 2060 e 2,7 graus até 2100.

As consequências

Só quem esteve fora da Terra nas últimas décadas não consegue indicar pelo menos uma das consequências deste aumento brutal da temperatura global — até porque muitas delas já se fazem sentir e os incêndios dos últimos dias na costa leste dos EUA, Canadá, Grécia e Turquia (sem esquecer as cheias na Alemanha no final de junho que causaram uma destruição para o qual nem o dicionário alemão estava preparado, segundo Angela Merkel), são apenas um exemplo disso. Mas não é preciso recorrer à memória, porque essas mesmas consequências são enumeradas no relatório do IPCC: eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e secas, vão ser mais frequentes e mais intensos.

Para quem tem ainda dúvidas de que nós somos os responsáveis por isto, aqui tem: de acordo com o grupo de peritos que elaborou o documento, a atividade humana é “inequivocamente” a causa desta alterações climáticas, que incluem a subida do nível das águas do mar, o derretimento do gelo polar e dos glaciares e os eventos climáticos extremos acima descrito. É nossa a responsabilidade por um aumento da temperatura que “não tem precedentes pelo menos nos últimos dois mil anos”, dizem os cientistas, segundo os quais a temperatura da superfície global aumentou mais desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos, pelo menos nestes tais últimos dois mil anos.

Como evitar tudo isto

Há quem acredite que já não há muito a fazer mas o otimismo continua a ser a qualidade dominante — e este grupo de investigadores não escapa à regra. Isto para dizer que parecem acreditar que ainda é possível evitar todas as situações acima descritas, sendo necessário, para isso, uma redução “imediata, rápida e em larga escala” dos gases com efeitos de estufa ainda durante esta década. Um “alerta vermelho para a humanidade”, foi assim que António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, classificou o relatório.

Mas não se limitou a descrições, apelando a cortes profundos nas emissões de gases poluentes. “Os países também devem acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos [desses combustíveis] para a energia renovável”, afirmou Guterres em comunicado, defendendo, em concreto, que a capacidade eólica e solar deve ser quadruplicada até 2030 e que os investimentos em energias renováveis devem triplicar.

Já os líderes de governos e empresas devem unir-se em torno de políticas, ações e investimentos para limitar o aumento da temperatura, a começar desde logo pela conferência do clima (COP26) que se realiza em novembro em Glasgow, na Escócia. “Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, tal o relatório desta segunda-feira indica claramente, não há tempo e não há lugar para desculpas.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt

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