Depois do dilúvio, é hora de juntar esforços na Alemanha e na Bélgica
Erftstadt, na Renânia do Norte-Vestefália, Alemanha
Sascha Schuermann/Getty Images
Especialistas e responsáveis políticos dizem que não se viam cheias assim há mais de 500 anos, nem tanta destruição desde a II Guerra Mundial. A Alemanha foi o país mais afetado, com 156 mortes e centenas de feridos e desaparecidos registados até ao momento, mas também a Bélgica, a Suíça e a Holanda veem-se a braços com muitos estragos. No total, as chuvas torrenciais provocaram pelo menos 183 óbitos no centro da Europa
A chuva acalmou e as casas e os carros começam a aparecer finalmente à superfície, depois de vários dias enterrados em lama e água, mas a tragédia não terminou. As cheias que afetaram esta semana a Alemanha e a Bélgica deixaram estragos que foram comparados aos da II Guerra Mundial, e centenas de pessoas continuam desaparecidas. Antecipa-se, por isso, que o número de mortes possa vir a aumentar, quando já são muitas as registadas em cada país até ao momento.
Erftstadt, na Renânia do Norte-Vestefália, Alemanha
Sascha Schuermann/Getty Images
Erftstadt, na Renânia do Norte-Vestefália, Alemanha
Sascha Schuermann/Getty Images
110
Na manhã deste domingo, o número de mortes subiu para 156 na Alemanha, de acordo com o mais recente balanço feito pelas autoridades — só no distrito de Ahrweiler, no estado de Renânia-Palatinado, um dos mais afetados no país, a par com a Renânia do Norte-Vestfália e o Sarre, morreram 110 pessoas. Pelo menos 600 pessoas ficaram feridas e várias zonas do país continuam sem acesso a eletricidade e à rede telefónica, não podendo também circular por estradas e pontes que se encontram destruídas ou bloqueadas por lama, pedaços de carros ou árvores caídas. Segundo vários meteorologistas e políticos alemães, não se viam cheias assim no país há 500 anos ou mais. Cerca de 15 mil polícias, militares e profissionais de serviços de emergência foram enviados para o terreno para ajudar nas operações de busca e resgate.
De visita, este sábado, a Erftstadt, outra das áreas mais afetadas pelas cheias, perto de Colónia, na Renânia do Norte-Vestfália, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que a verdadeira dimensão da tragédia só será conhecida nas próximas semanas. “Os danos são enormes e os trabalhos de limpeza vão levar tempo.” Lamentando todas as vidas que se perderam, o presidente alemão sublinhou que os residentes das zonas mais destruídas “não têm mais nada além de esperança” e que têm de ser protegidas e ajudadas. Morreram pelo menos 45 pessoas em Erftstadt.
Para este domingo, está agendada uma visita da chanceler alemã, Angela Merkel, à cidade de Stuhr, que também foi muito afetada pelas cheias. A situação no país está controlada, mas ainda há zonas em risco, como a que envolve Steinbachtal, uma barragem em Euskirchen, na Renânia do Norte-Vestfália, e de onde foram, entretanto, retiradas cerca de 4.500 pessoas.
Como é que as cheias ganharam estas proporções é uma questão que já está a ser colocada — mas, além das consequências da tragédia, também é possível que a sua justificação não esteja para breve. O “New York Times” recorda que, dias antes de a água afundar o país, uma agência europeia ligada ao ambiente emitiu um aviso sobre cheias fortes, com base em modelos que previam uma subida da água dos rios para níveis que não se viam há centenas de anos. No entanto, os alertas pouco serviram.
Embora o sistema de sensores que mede o nível das águas no país “tenha funcionado como era suposto”, caiu mais chuva de que há memória, “fazendo com que até pequenos canais e rios transbordassem.” Ainda assim, entre sobreviventes e responsáveis políticos, houve quem falasse de inação, tendo em conta a falta de preparação em algumas zonas para catástrofes assim. Ao jornal norte-americano, Linda Speight, especialista em meteorologia na Universidade de Reading, no Reino Unido, sugeriu que se tivesse havido mais comunicação sobre os riscos que a população corria, devido às cheias, não teriam morrido tantas pessoas.
Bélgica com 27 mortes. Holanda ainda em risco
Países como a Bélgica, Suíça e Holanda também foram afetados por cheias nos últimos dias. No primeiro deles, há registo, até ao momento, de 27 vítimas mortais, segundo a agência Reuters. Outras 103 encontram-se desaparecidas. Nas províncias belgas de Luxemburgo e Namur, houve problemas no abastecimento de água devido às cheias, tendo as autoridades distribuído água potável em várias residências. Este sábado, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitaram as zonas do país com mais estragos.
Na Holanda, não há registo de mortes, mas os serviços de emergência mantêm-se em alerta dada a subida do nível das águas dos rios em cidades e vilas da província de Limburg, no sudeste do país. Milhares de pessoas foram retiradas da região nos últimos dois dias.