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Felipe Neto. De ídolo (dos miúdos) a inimigo (de Bolsonaro)

Felipe Neto. De ídolo (dos miúdos) a inimigo (de Bolsonaro)

Em 2010 começou a notabilizar-se no YouTube. Em 2016 já era milionário. Em 2020 tornou-se figura de proa da oposição ao Presidente brasileiro. Do humor saltou para a intervenção política. Com mais de 70 milhões de seguidores nas redes sociais, agora milita a favor de riscar Bolsonaro do mapa em 2022

Uma simples pesquisa online chega para perceber que a vida dele passou a património público e que a imprensa o segue de perto. Tão de perto que cada tweet seu ou story no Instagram dão origem a notícias replicadas em tudo quanto é meio de comunicação social. Tão de perto, que basta um simples clique para sabermos, por exemplo, o nome dos cães, da namorada, os metros quadrados da mansão que habita, ou curiosidades como o facto de o Chess.com, o maior site de xadrez do mundo, lhe ter cancelado a conta alegando que jogou com o auxílio de um programa de computador. Porém, e cada vez mais, o jovem que começou a dar cartas como ídolo dos miúdos — mesmo em Portugal — hoje é conhecido por irritar profundamente o Presidente brasileiro. Há dias, num comício onde Bolsonaro discursou para uma assistência sem máscara, o deputado e fervoroso apoiante Hélio Lopes pegou uma menina ao colo e passou-lhe o microfone para finalizar o evento. “Gente, Bolsonaro está fazendo de tudo para o coronavírus acabar logo. Coronavírus vai embora. E eu quero ver o Felipe Neto na prisão”, gritou ela, antes de Bolsonaro se despedir e avançar pela multidão distribuindo apertos de mãos. Bem adestrada, a criança disse aquilo que o Presidente não se atreve a dizer em alta voz, embora tenham já sido várias as oportunidades em que, indiretamente, tentou pôr o pé para Felipe Neto cair.

O youtuber mais visto do Brasil foi há semanas protagonista de um episódio que acendeu — ou atualizou — a discussão sobre o real exercício da liberdade de expressão no seu país. Tudo tinha acontecido a 5 de março, quando Felipe Neto chamou “genocida” a Jair Bolsonaro pela sua conduta face à pandemia que, naquele país, já causou acima das 400 mil mortes. Uma semana depois, recebeu uma intimação para depor na Polícia Civil do Rio de Janeiro por alegado crime ao abrigo da Lei da Segurança Nacional, uma lei criada nos tempos da ditadura militar que Felipe Neto clama estar a ser utilizada para perseguir opositores políticos. O autor da queixa era nada menos que Carlos Bolsonaro, um dos cinco filhos do governante. Felipe Neto usou o Twitter, onde é seguido por mais de 25 milhões de pessoas, para dar conta do que lhe ia na alma: “Não sei como ele [Carlos Bolsonaro] gostaria que eu me referisse ao Presidente. Um Presidente que chamou a maior pandemia vista em muitos anos ‘gripezinha’ (…), que sabotou e sabota as medidas de prefeitos e governadores que tentaram fazer alguma coisa contra a propagação do vírus, que condenou o uso de máscaras e se recusou a utilizá-las, que demitiu dois ministros da Saúde e gastou milhões em cloroquina, que se recusou veementemente a comprar vacinas. Como eu deveria chamar esse Presidente? Colegão, amigo do povo, guerreiro? Não sobrava outra palavra para definir o Presidente.” A justiça acabou por suspender a investigação por considerá-la uma “ilegalidade flagrante”.

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