
No ano passado, a bielorrussa deixou de ser uma dona de casa a cuidar dos dois filhos para se transformar na líder de uma revolução contra o último ditador da Europa
No ano passado, a bielorrussa deixou de ser uma dona de casa a cuidar dos dois filhos para se transformar na líder de uma revolução contra o último ditador da Europa
Correspondente em Londres
O ano de 2020 foi certamente diferente para a maioria das pessoas, mas para Svetlana Tikhanovskaia a transformação não poderia ser mais radical. Depois de dez anos passados em casa a cuidar dos filhos, ela sonhava dar início a uma carreira como professora de inglês. “A vida, no entanto, tinha outros planos para mim”, diz. Um após outro, os opositores do Presidente Alexander Lukashenko — que governa a Bielorrússia com mão de ferro desde 1994 — foram presos ou forçados a abandonar as eleições presidenciais de agosto de 2020. Um dos presos foi o empresário e bloguista Sergei Tikhanovski, marido de Svetlana. Sem medo, ela decidiu tomar o lugar do marido. De um dia para o outro transformou-se numa revolucionária por acidente, uma líder destemida que dá voz, no feminino, aos milhares de bielorrussos que querem livrar-se do último ditador da Europa. Svetlana Tikhanovskaia falou com o Expresso via Zoom em Vilnius, na Lituânia, para onde se exilou com os filhos logo após as eleições que a União Europeia classificou como fraudulentas e injustas (ela teve apenas 10 por cento dos votos). A conversa, de 90 minutos, decorreu poucos dias antes da viagem dela a Portugal. Sentada num escritório de vidro com vista para o rio Neris, Tikhanovskaia, de 38 anos, vestia um fato preto que contrastava com a enorme bandeira vermelho e branca, adotada pelos revolucionários opositores de Lukashenko. “A nação portuguesa também atravessou um período de ditadura”, diz ela. “Acho que na Bielorrússia poderemos aprender com o exemplo português de transformação.”
Ao longo da minha carreira entrevistei muitas mulheres incrivelmente corajosas, mulheres que escolheram esse rumo para a vida delas. No seu caso foi diferente. Você foi atirada para esta luta.
No início foi mais ou menos por acaso. Não tinha qualquer intenção de ser líder desta revolução. Avancei com o registo dos papéis como forma de proteger o meu marido. As decisões posteriores já foram mais pensadas. Mandei os meus filhos para o estrangeiro, para garantir a segurança deles. E depois juntei-me aos outros [oposicionistas].
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt