Internacional

Papa Francisco chega ao Iraque em plena pandemia e com alertas de segurança

Francisco aterrou em Bagdade, onde o esperava uma multidão de fiéis
Francisco aterrou em Bagdade, onde o esperava uma multidão de fiéis
THAIER AL-SUDANI/REUTERS

A arriscada visita tenta dar um sinal de esperança à frágil comunidade cristã no país, e a cimentar o diálogo entre as religiões

Papa Francisco chega ao Iraque em plena pandemia e com alertas de segurança

José Pedro Tavares

Correspondente em Ancara

Já se sabia que Francisco não é um pontífice acomodado. A visita ao Iraque que o líder da igreja católica iniciou esta sexta-feira é significativa por diversas razões: é a primeira de um Papa ao país; a primeira viagem papal em contexto de pandemia; , e acontece poucos dias depois de ataques terroristas terem visado interesses ocidentais no Iraque.

Francisco, de 84 anos, aterrou a meio da manhã em Bagade. No avião afirmou aos jornalistas: “É uma viagem emblemática e é um dever para com uma terra que foi martirizada durante tantos anos”. Já antes explicara que os cristãos iraquianos não merecem ser “dececionados uma segunda vez”, após o cancelamento da visita de João Paulo II ao país em 1999.

O périplo de Francisco não se limitará às zonas bem protegidas da capital, Bagdade: andará um pouco por todo o país, incluindo a cidade histórica de Ur, onde nasceu o profeta Abraão (venerado por católicos, judeus e muçulmanos); o bastião xiita de Najaf; sem esquecer Erbil e Mosul, no Curdistão iraquiano, onde a comunidade cristã local sofreu horrores durante o período em que a região esteve sob controlo do autodenominado califado islâmico (Daesh), entre 2014 e 2017.

O Papa aterrou em Bagdade para uma visita histórica que incluirá encontros com as principais autoridad civis e religiosas iraquianas
REUTERS TV

O Papa celebrará missa precisamente numa das igrejas de Mosul vandalizadas e destruídas pelos jiadistas, e visitará uma pequena comunidade cristã na vila de Qaraqosh.

Segurança reforçada

Francisco leva consigo uma equipa de segurança reforçada, a que se juntam milhares de elementos iraquianos que tentarão protegê-lo nesta deslocação de alto risco. O Iraque tem sido alvo de ataques e atentados, o último dos quais esta quarta-feira, quando a principal base militar americana, onde também estão baseados elementos da coligação internacional, foi alvejada por pelo menos dez morteiros.

No passado dia 16 de fevereiro outra base militar em Erbil, no Curdistão iraquiano, foi bombardeada com morteiros. O ataque vitimou dois estrangeiros.

Em Najaf, dias antes da chegada do Papa, restaurava-se um manuscrito religioso antigo que será exibido a Francisco
ALAA AL-MARJANI/REUTERS

Trégua pontifícia

A visita papal tem também por objetivo fomentar a concórdia e o diálogo inter-religioso, temas caros ao atual pontífice. Na cidade de Najaf, Francisco irá reunir-se com o líder máximo dos xiitas iraquianos, o ayatollah Sayyid Ali al-Husayni al-Sistani, de 90 anos.

Um dos grupos armados que combatem no Iraque, a Brigada Guardiões do Sangue (Saraya Awliya al-Dam), milícia xiita pró-iraniana que reivindicou o recente ataque em Erbil, declarou que iria cessar todas as “operações militares durante a visita do Papa, por respeito ao imã Al-Sistani e em nome da hospitalidade árabe”.

O Papa encontrar-se-á com o primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi; o Presidente do Iraque, Barham Salih; e o primeiro-ministro e o presidente da região autónoma do Curdistão iraquiano, respetivamente Masrour Barzani e Nechirvan Barzani. Nesta região o pontífice celebrará uma homilia em homenagem aos mortos nos diversos conflitos que têm afetado o Iraque, e uma missa campal num estádio em Erbil.

Antes de partir de Roma esta sexta-feira de manhã, Francisco encontrou-se com refugiados iraquianos a viver em Itália e gravou uma pequena mensagem para o povo iraquiano: “Venho até vós como peregrino da paz”. No início deste século o Iraque tinha mais de um milhão de católicos, mas a guerra e os ataques jiadistas contra a comunidade cristã levaram a maior parte ao exílio. Hoje restam menos de 300 mil, numa população de 40 milhões.

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