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Farmacêuticas no Parlamento Europeu: “Também estamos desapontados com menor capacidade de fornecimento de vacinas na distribuição europeia”

Farmacêuticas no Parlamento Europeu: “Também estamos desapontados com menor capacidade de fornecimento de vacinas na distribuição europeia”
YVES HERMAN/REUTERS

Responsáveis das grandes farmacêuticas falaram esta quinta-feira ao Parlamento Europeu. Face às críticas e perguntas dos deputados, foram unânimes em dizer que não há milagres quando se quer fazer em meses o que normalmente leva vários anos

A produção de vacinas contra a covid-19 está a avançar à velocidade máxima possível por agora, consequência de se estar a concretizar em meses um processo que, em circunstâncias normais, demoraria anos. Os líderes executivos das farmacêuticas que têm a seu cargo o desenvolvimento e produção das vacinas estiveram esta quinta-feira no Parlamento Europeu para participar num debate em torno dos atrasos na entrega e das soluções para acelerar o processo.

Os fabricantes têm estado debaixo de forte pressão face aos atrasos verificados nas entregas, ao mesmo tempo que chovem críticas sobre a estratégia de vacinação da União Europeia (UE), não só quanto à negociação da entrega das doses como do próprio processo de autorização de novas vacinas pela Autoridade Europeia do Medicamento, tida como demasiado lenta.

Os deputados europeus foram desta vez a voz da frustração da UE. Às críticas, a AstraZeneca, a Moderna, a Pfizer e outras foram respondendo com o mesmo argumento de que se anda ao ritmo possível, tendo em conta que em causa está a necessidade de fornecer vacinas em tempo historicamente recorde.

“Tal como vós, também estamos desapontados com uma menor capacidade de fornecimento na cadeia de distribuição europeia. Desenvolver e produzir uma vacina segura e eficaz e aperfeiçoar, testar e estabilizar o processo de fabrico, leva normalmente anos. Demorámos apenas meses a fazê-lo”, explicou Pascal Soriot, presidente executivo da AstraZeneca. “Estamos a fazer o que está ao nosso alcance”, assegurou o responsável.

Estas declarações surgem no contexto de notícias dando conta que a AstraZeneca se preparava para entregar à UE metade das doses previstas para o segundo trimestre. A farmacêutica veio, entretanto, garantir que irá distribuir as 180 milhões de doses combinadas para os meses de abril a junho com recurso à produção fora da Europa de cerca de metade das doses a entregar. O resto fará uso da cadeia de distribuição europeia.

Ainda assim, tanto a AstraZeneca como as restantes fabricantes foram unânimes ao dizer que quanto mais se caminha, mais se aprende e aperfeiçoa e maior se torna, portanto, a produtividade. O segundo trimestre é apontado pelas várias farmacêuticas como um momento de transição em termos do considerável aumento da capacidade de fornecimento de vacinas esperado que, no caso de alguns fabricantes, será o momento de se tentarem redimir dos prazos falhados neste primeiro trimestre de 2021.

“Tal como outras empresas europeias, temos vindo a trabalhar para melhorar a nossa velocidade de produção e vamos ter doses cada vez maiores, semana após semana”, adiantou também o líder executivo da Moderna. Stéphane Bancel explicou que a farmacêutica não tinha uma cadeia de distribuição na Europa, ao contrário dos EUA, onde já dispunha de uma unidade de produção. Também este responsável explicou que “o fabrico normalmente demora três a quatro anos”.

A intervenção de Paul Stoffels, vice-presidente da comissão executiva da Johnson & Johnson, foi no mesmo sentido que a dos seus concorrentes. “Tivemos de criar instalações novas. Em menos de um ano, desenvolvemos, a partir da estaca zero, essa capacidade de produção”.

A farmacêutica que desenvolveu uma vacina de apenas uma toma, diz estar convencida de que cumprirá o seu compromisso “de produção de 200 milhões de vacinas para a União Europeia em 2021”. Falta agora a ‘luz verde’ da EMA para que a distribuição possa arrancar.

“Comprimimos o que normalmente demora anos em meses e o que demora meses em semanas para tornar possível o que parecia impossível”, disse também a presidente da Pfizer/BioNTech, farmacêutica que também atrasou a distribuição de vacinas. Angela Hwang garantiu, ainda assim, que a Pfizer está a cumprir as metas definidas para o primeiro trimestre e disse que o grupo espera triplicar as doses no segundo trimestre.

Já a CureVac espera que a aprovação da sua vacina chegue no mês de junho.

Dada a complexidade de produção de vacinas, os responsáveis das farmacêuticas lembraram também que, para aumentar a capacidade, não basta simplesmente construir mais uma unidade fabril. “Para fabricar numa localização adicional, há que dar formação para tudo o que for feito nas instalações novas. Não temos, nesta altura, capacidade de formação adicional”, avisou o presidente executivo da AstraZeneca.

Este mesmo responsável elogiou a estratégia do Reino Unido de “cobrir o máximo número de pessoas possível com a primeira dose e depois aplicar, nem que seja um pouco mais tarde, a segunda dose”. No entanto, se a AstraZeneca recomenda a administração da segunda toma num prazo de até doze semanas depois da primeira, o intervalo defendido pela Moderna é de quatro semanas e o da Pfizer de três.

O adiamento da segunda toma das vacinas tem sido uma das estratégias discutidas nos diferentes países como forma de contornar o atraso na chegada de vacinas. Alguns países já seguiram este caminho. Outros, como é o caso de Portugal, ainda estão a avaliar se avançam ou não por esta via.

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