Milhares de pessoas foram arbitrarimente detidas pelas forças de segurança bielorrussas e centenas delas submetidas a tortura e maus-tratos nos dias que se seguiram à reeleição de Alexander Lukashenko como Presidente da Bielorrúsia em agosto, denunciou a Human Rights Watch (HRW) esta terça-feira.
Entre os atos de violência descritos, as vítimas ouvidas pela organização (que também teve acesso a relatos escritos e a diferentes vídeos) descreveram espancamentos, posições de stresse prolongado, choques elétricos e pelo menos um caso de violação.
Algumas foram presas enquanto participavam em manifestações que descreveram como pacíficas; outras foram detidas na rua ou levadas dos seus automóveis. Segundo a HRW, os relatos são comprovados por diferentes documentos médicos e fotografias partilhadas que mostram os feridos. Pelo menos cinco das pessoas que a organização ouviu ainda apresentavam hematomas e/ou usavam gesso no momento da entrevista.
Em causa estão ferimentos graves, incluindo fraturas ósseas, dentes partidos, feridas na pele, queimaduras elétricas e lesões cerebrais traumáticas leves, diz a HRW, acrescentando que a polícia manteve os detidos sob custódia durante vários dias, “muitas vezes incomunicáveis e em condições de sobrelotação e sem quaisquer condições de higiene”.
Sem acesso a água, comida e medicamentos
Alguns dos ex-detidos contaram que a polícia, a tropa de choque e as forças especiais conhecidas como Spetznaz os levaram das ruas e os espancaram, fosse no interior de veículos, em esquadras ou noutras instalações de detenção. Também lhes foi negada comida e água, ou recusados os pedidos para irem à casa de banho. Algumas pessoas, doentes, ficaram sem acesso a medicamentos, sendo descrito o caso de um homem que entrou em coma enquanto estava sob custódia policial.
“A extrema brutalidade da repressão mostra até que ponto vão as autoridades bielorrussas para silenciar as pessoas”, declarou Hugh Williamson, diretor da HRW para a Europa e Ásia Central. “As Nações Unidas e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) devem iniciar inquéritos urgentes para garantir a recolha de provas que possam contribuir para a responsabilização por graves violações dos direitos humanos”, defendeu.
O Conselho para os Direitos Humanos das Nações Unidas vai discutir de urgência, esta sexta-feira, a situação na Bielorrússia, tendo entretanto a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michele Bachelet, pedido um inquérito sobre as acusações de tortura pelas forças de segurança da Bielorrússia.
Também a oposição bielorrussa está a reunir testemunhos para apresentar uma queixa contra o Presidente, Alexander Lukashenko, no Tribunal Penal Internacional (TPI), anunciou esta terça-feira o opositor exilado Valeri Tsepkalo.
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