Tanto em tempo de paz como em tempo de guerra houve explosões, algumas envolvendo nitrato de amónio, superiores à de dia 4 em Beirute, umas no número de vítimas, outras na energia libertada.
A instabilidade do nitrato de amónio, utilizado habitualmente como base de fertilizantes, provocou ao longo dos últimos cem anos uma série de acidentes industriais causadores, nalgumas situações, de muitas centenas de vítimas. Um inventário feito a propósito dos últimos acontecimentos pelo diário francês “Le Monde” enumera os principais.
1916 – No dia 2 de abril, no paiol de uma fábrica de munições britânica, um incêndio provocou a explosão de uma mistura de nitrato de amónio e dinamite donde resultaram 115 mortos, incluindo a totalidade dos bombeiros que combatiam o sinistro. Foi em Faversham, na região de Kent (sueste de Inglaterra).
1921 – A 21 de setembro na fábrica da BASF de Oppau, a sul de Frankfurt, Alemanha, a utilização imprudente de explosivos para desagregar um bloco de milhares de toneladas de sulfato e nitrato de amónio, provocou uma explosão que matou meio milhar de pessoas e foi ouvida em Munique a 300 km.
1947 – No dia 16 de abril ocorreu uma tragédia da mesma ordem de grandeza (energia libertada e número de mortos) no porto norte-americano de Texas City na sequência da explosão de 2100 toneladas de nitrato de amónio armazenadas nos porões do cargueiro francês “Grandcamp”.
2001 – A 21 de setembro a explosão de 300 toneladas de nitrato de amónio na fábrica AZF de Toulouse (sul de França) matou 31 pessoas.
Quando a crista de Messines foi pelos ares
Se as situações referidas são acidentes industriais e, excepção feita à de Faversham, ocorreram em tempo de paz, a maior explosão não nuclear de todos os tempos aconteceu na Flandres em 1917 durante a I Guerra Mundial.
No quadro da ofensiva britânica do verão de 1917, sapadores minaram o subsolo da colina de Messines, na Bélgica, com o objectivo de eliminar as posições fortificadas alemãs construídas no topo da “colina 60”.
Foi preparada uma dezena de minas com uma carga explosiva total de 500 toneladas de dinamite, preparadas para explodirem de forma sequencial. O segundo comandante daquela frente, general Harington disse na véspera da deflagração: “não sei se vamos mudar a História mas de certeza que vamos mudar a geografia”.
Às primeiras horas de 7 de junho foram detonadas sucessivamente as diversas minas, donde resultou a colina 60 ser completamente pulverizada. A explosão foi sentida em Londres. Apenas a mina de La Petite Douve não deflagrou e lá se mantém mais de 100 anos depois nas profundezas de verdejantes campos de milho, julga-se que inativada.
Morreram dez mil soldados alemães na explosão, só a mina de Spanbroekmolen abriu uma cratera com 12 m de profundidade e 76 de diâmetro e os sobreviventes ficaram de tal maneira abalados que não esboçaram qualquer resistência à passagem da força de assalto britânica, a única nesta ofensiva que conseguiu abrir uma brecha de 40 km de profundidade. A guerra, como sabemos, duraria até novembro do ano seguinte.
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