Uma adolescente chinesa que em 2019 realizou a primeira greve escolar pelo clima, à imagem do que a sueca Greta Thunberg inspirou muitos jovens a fazer pelo mundo fora, está em risco de ver os seus estudos comprometidos. Segundo o jornal "The Guardian", as autoridades avisaram-na de que tem de parar o ativismo, sob pena de não poder concluir os estudos no liceu de Guilin, que interrompeu em 2018, e desse modo ficar impedida de seguir para a universidade.
O aviso surge depois de Howey Ou, atualmente com 17 anos, se ter tornado uma pequena celebridade em 2019, quando foi elogiada por Thunberg e recebeu um de apenas dois "bilhetes verdes" atribuídos a jovens chineses para assistir à cimeira internacional sobre o clima em Nova Iorque.
Sendo a China o país que emite mais gases com efeito de estufa, e tendo a poluição em muitas das suas cidades atingido níveis perigosos para a saúde, a mensagem de Howey não é aquela que o governo mais deseja, até pelo contraste que estabelece com o triunfalismo oficial.
Além disso, como explica ao "Guardian" um professor de jornalismo em Hong-Kong, um problema principal está em que as autoridades chinesas encaram qualquer forma de ação coletiva como um desafio ao seu poder. "Independentemente do tipo de ação coletiva que for, é considerada altamente sensível", explica o professor, ainda que as reivindicações de Howey não tenham diretamente a ver com o sistema político e a liberdade - as questões que mais repressão têm gerado contra os jovens na China, desde o massacre de Tiananmen até à recente lei sobre segurança imposta a Hong-Kong.
Mesmo o empenho pessoal numa causa oficialmente perfilhada pelo governo (a China comprometeu-se oficialmente com os objetivos do acordo de Paris e aceitou metas importantes) pode resultar em graves problemas pessoais. Howey terá de decidir o que quer para o seu futuro, em mais do que um sentido.
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