Internacional

Covid-19. OMS preocupada com chegada a África do surto que voltou a matar médico na China

A notícia da morte de um jovem médico vem num momento em que o número de mortos já ultrapassa os dois mil, só na China
A notícia da morte de um jovem médico vem num momento em que o número de mortos já ultrapassa os dois mil, só na China
CHINA DAILY

Aos 29 anos, Peng Yinhua era um dos profissionais na linha da frente do combate ao coronavírus Covid-19. Morreu em Wuhan, epicentro do surto. Na Coreia do Sul, os casos quase triplicaram em três dias. África é, porém, a grande preocupação da Organização Mundial de Saúde

Um médico de 29 anos morreu esta quinta-feira em Wuhan, a cidade na província chinesa de Hubei onde o surto de coronavírus foi inicialmente detetado e que continua a ser a região mais contaminada. O caso não é igual aos outros porque Peng Yinhua, especialista em doenças respiratórias, foi infetado enquanto trabalhava na linha da frente do combate ao coronavírus.

É o segundo caso do género: há um mês foi Li Wenliang, outro jovem médico, de 34 anos. O caso de Li ganhou expressão internacional quando se soube que as autoridades chinesas o repreenderam por ter avisado os colegas da faculdade médica que frequentava de que o coronavírus era um surto. Antes de o próprio Governo o fazer. Agora é Peng a saltar para o topo das notícias por se ter sabido que adiou o seu casamento para continuar a tratar pacientes contaminados.

A notícia da morte surge ainda num momento delicado para o governo chinês, que atualizou o número de infetados: são mais 1109 casos, que contribuem para um total acima de 74 mil, só na China continental. As mortes a registar também aumentaram, para 2236. E a preocupação surge de onde nem sempre se espera. Nas prisões, há já 500 casos confirmados pelo país. E aqui, como em todas as outras estatísticas, Hubei continua a ser a região mais crítica, com 271 desse total de doentes. A maioria mulheres.

A cerca de 1500 quilómetros, na Coreia do Sul, as notícias não são melhores. Em três dias, o número de infetados triplicou, tornando o país o segundo mais afetado pela epidemia, fora a China. São agora 156 casos, enquanto no Japão o número se mantém em 94, se descontarmos os do navio de cruzeiro Diamond Princess. A situação coreana terá tido origem numa mulher de 61 anos com sintomas de pneumonia, que esteve em visita a uma igreja em Daegu, cidade com mais de dois milhões de habitantes e que fica a apenas duas horas da capital, Seul. A mulher é agora conhecida por “paciente 31” e as autoridades do país avisaram que os encontros religiosos são “eventos de super propagação”. Não estão proibidos, mas desaconselhados, ao contrário de grandes ajuntamentos de pessoas, que foram mesmo banidos.

Bibliotecas, escolas e infantários estão fechados em Daegu. Após uma série de testes positivos a pessoal militar, também os soldados estão proibidos de abandonar os quartéis. O primeiro-ministro coreano, Chung Se-kyun, admite que o país vai entrar numa segunda fase do combate ao coronavírus: a “fase de emergência”.

O aeroporto internacional do Cairo, capital do Egito, tem segurança reforçada, após a deteção de um caso de coronavírus no país
STR

Organização Mundial de Saúde preocupada com África

Ao fim de praticamente três meses, há que adicionar uma nova geografia ao surto. O primeiro doente infetado no continente africano está no Egito, não muito longe do Irão, já na Ásia, onde duas pessoas morreram esta semana por causa do Covid-19.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) o caso africano é especialmente preocupante por se tratar de um continente que inclui países com sistemas de saúde precários e planos de contingência antiquados. Em conferência de imprensa, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a organização está a “associar-se aos CDC (Centros de Prevenção e Controlo de Doença) de África para coordenar esforços e preparar uma possível chegada do vírus”. “Acreditamos que lá o vírus pode ser um grave perigo, por isso estamos a centrar-nos nos lugares onde os sistemas de saúde são mais frágeis”, completou.

Esses lugares estão em países como a Nigéria, Gana, Etiópia, Sudão, Quénia, Tanzânia ou Angola, que, no entanto, não são os países com maior risco de contaminação. Apesar da proximidade de alguns às fronteiras asiáticas, o risco é considerado “moderado” por um estudo publicado na revista “The Lancet”, que põe o desafio no Egito, na Argélia e na África do Sul. O paradoxo é que esses são exatamente os países com maior capacidade de resposta, segundo a mesma fonte.

Vittoria Colizza, investigadora da universidade francesa Sorbonne, responsável pelo estudo, conta que “os países africanos reforçaram recentemente a preparação para lidar com casos importados do Covid-19, incluindo vigilância em aeroportos, controlo de temperatura nas fronteiras, recomendações para evitar viagens à China e o aprimoramento das informações de saúde fornecidas aos profissionais do setor e do público em geral”. No entanto, alerta, “alguns países ainda estão mal equipados”.

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