Em vésperas de eleições regionais e num passo que está a ser interpretado como uma estratégia para ganhar tempo de antena e a oportunidade de defender as suas polémicas posições políticas, Matteo Salvini - investigado por ter impedido o desembarque de 131 migrantes - decidiu renunciar à imunidade parlamentar e quer ser levado à Justiça.
“Guareschi dizia que há momentos em que, para se chegar à liberdade, é preciso passar pela prisão. Estamos prontos, estou pronto”, afirmou esta segunda-feira o ex-ministro do Interior italiano.
A declaração antecedeu a votação da Junta de Imunidade Parlamentar do Senado, orgão que recomendou a abertura de um processo contra o ex-ministro pelo sequestro dos migrantes, e o plano correu como desejado.
Tal como instruídos, os representantes da Liga (partido de Salvini) votaram a favor de ver o seu líder no banco dos réus. Em sentido inverso votaram os seus aliados de coligação, levando a um empate, mas como os deputados da maioria do governo (do Partido Democrata e do Movimento 5 Estrelas) se ausentaram da sala, em protesto, mandam os regulamentos que no próximo procedimento parlamentar seja confirmado o levantamento da imunidade.
A maioria no poder protestava precisamente por entender que a votação deveria apenas efetuar-se após as eleições de domingo, para não interferir na escolha dos eleitores.
“Que se faça esse processo político contra alguém que defendeu a segurança, as fronteiras e a honra deste país. Quero ir a tribunal e representar os milhões de italianos que querem viver tranquilos em suas casas”, disse também Salvini, ciente de que poderá usar a seu favor a publicidade conquistada à custa do mediatismo deste eventual processo.
Agrada-lhe, desde já, a ideia de poder recuperar para o debate público a questão migratória, tema que perdeu fôlego em Itália após a sua saída do Governo. Melhor ainda, a questão em torno do seu futuro ser discutida por estes dias, a tempo de influenciar os votos regionais, sobretudo em Emilia Romagna, onde o resultado decidirá parte do destino do Executivo em Roma - um bom resultado da extrema-direita poderá forçar a realização de legislativas antecipadas.
Sobre Salvini chegar ou não a enfrentar a Justiça, tudo depende da votação final que acontecerá na sede do parlamento italiano em meados de fevereiro. Em causa está a ordem dada pelo então ministro do Interior, em julho de 2019, para impedir o desembarque de 131 migrantes que haviam sido resgatados pelo navio Gregoretti, pertencente à própria Guarda Costeira italiana.
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