O ex-presidente da Nissan e da Renault, Carlos Ghosn, terá conseguido fugir do Japão depois de a empresa de segurança contratada pelo fabricante automóvel nipónico para vigiar o empresário ter suspendido os serviços no passado dia 29 de dezembro, avança a Reuters.
Segundo a agência de notícias britânica, que cita três fontes conhecedoras do processo, os advogados de Carlos Ghosn contestavam a vigilância feita por uma empresa de segurança privada contratada pela Nissan, alegando que estava em causa a violação dos Direitos Humanos. O chefe da equipa de defesa, Junichiro Hironaka, chegou mesmo a ponderar apresentar uma queixa contra a empresa, o que acabou por não ser necessário.
Certo é que Carlos Ghosn deixou de ser monitorizado por essa companhia de segurança no passado domingo, o que possibilitou a sua fuga para Beirute. Imagens divulgadas pela estação estatal NHK mostram esse momento em que o empresário – com um chapéu e uma máscara de cirurgia no rosto – saiu sozinho da sua casa em Tóquio rumo ao aeroporto de Osaka, situado a cerca de 400 quilómetros de distância.
Tudo indica que Ghosn foi transportado numa caixa de equipamentos de música com orifícios para poder respirar, refere o “New York Times” e o “Wall Street Journal”. O empresário terá chegado a Beirute num avião privado via Istambul, onde terá feito escala.
Desconhece-se ainda como Carlos Ghosn conseguiu escapar para a capital do Líbano e quando começou a preparar o plano que – segundo o próprio – foi elaborado “sozinho” sem a ajuda da família. Mas as autoridades estão a tentar perceber se houve cúmplices: de acordo com o “Financial Times”, várias equipas de especialistas de segurança privadas e antigos militares deverão ter estado envolvidos no plano de fuga avaliado em cerca de 17,92 mil euros (20 mil dólares).
Michael Taylor terá ajudado o empresário
A imprensa norte-americana está a avançar que foi Michael Taylor, um conhecido especialista em fugas, que ajudou o empresário. Apesar de não ter acompanhado Ghosn na viagem, o homem que ajudou em 2009 à libertação do jornalista norte-americano David Rohde sequestrado pelos talibãs um ano antes, terá preparado todos os passos deste plano.
Fonte citada pelo “Wall Street Journal” revela que o antigo líder da Nissan foi acompanhado na viagem por George Zayek, funcionário de uma empresa de segurança privada com ligações a Michael Taylor.
A misteriosa fuga do empresário está até a espantar os mais próximos, que se manifestam muito surpreendidos porque Ghosn dizia acreditar que não deveria deixar o Japão na próxima década. “É simplesmente inacreditável”, “Eu literalmente não sei o que dizer”, afirmam dois amigos citados pelo jornal “Financial Times.”
A empresa de jatos privados turca, que efetuou o voo para Beirute, garante que em nenhum documento foi revelado o nome de Carlos Ghosn que possui tripla nacionalidade: brasileira, francesa e libanesa. No entanto, o antigo líder da Nissan terá conseguido entrar no país utilizando o seu passaporte francês. Sete pessoas já foram detidas na Turquia.
Mandado internacional da Interpol
Carlos Ghosn, acusado dos crimes de desvio de dinheiro, fraude fiscal e gestão danosa, diz que fugiu do Japão para escapar da “injustiça e perseguição política”. Aos 65 anos, o empresário é alvo também de um mandado internacional da Interpol . Entretanto, sabe-se que Ghosn já se reuniu com o Presidente libanês depois de chegar ao país, que enfrenta uma crise financeira. A fuga do empresário para Beirute constitui uma humilhação para as autoridades japonesas, mas também poderá criar problemas para o Governo libanês.
São muitas as dúvidas sobre a fuga de Ghosn, mas algumas delas poderão ficar já esclarecidas para a semana, uma vez que o ex-líder da Nissan se prepara para dar uma conferência de imprensa.
Em abril, Carlos Ghosn saiu da prisão em Tóquio, mediante o pagamento de uma caução. O empresário ficou em regime domiciliário, impedido de sair o país e de contactar a mulher, pelo que se desconhece como conseguiu escapar das autoridades nipónicas.
Ghosn foi detido em novembro de 2018, libertado sob fiança em março e novamente detido em abril, sob suspeitas de fraude contra o fabricante automóvel japonês.
Artigo atualizado às 15h23