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“A América está a falhar aos sobreviventes do Holocausto”: a história do ataque antissemita em Nova Iorque

“A América está a falhar aos sobreviventes do Holocausto”: a história do ataque antissemita em Nova Iorque
KENA BETANCUR/Getty

Várias dezenas de judeus reuniram-se no sábado à noite em casa do rabino de Monsey, a norte da cidade de Nova Iorque, para celebrar o Hanukkah, uma festividade judaica que lembra a vitória das luzes sobre as trevas. Mas a meio da cerimónia um homem entrou pela casa com uma arma branca e feriu cinco dos presentes. Os ataques antissemitas estão a aterrorizar a comunidade

Cinco pessoas ficaram feridas na sequência de um ataque com arma branca em casa de um líder religioso judeu, em Monsey, a norte de Nova Iorque, durante as celebrações do festival judaico Hanukkah. O governador da cidade, Chris Cuomo, já classificou o sucedido como “ato de terrorismo doméstico” e já há um suspeito que foi detido em Harlem, a cerca de 45 quilómetros do local do ataque.

O ataque aconteceu por volta das 22h em Nova Iorque, 03h de domingo em Portugal Continental, precisamente durante as preces associadas a este evento religioso que celebra, segundo os escritos judaicos, “a vitória da luz sobre as trevas” e relembra os guerreiros judeus que lutaram contra o domínio do Império Selêucida. Hoje é um símbolo de liberdade religiosa e do direito do povo judaico à existência e à prática dos seus rituais, liberdade essa que lhes foi este sábado negada quando um homem irrompeu pela casa do rabino Chaim Rottenberg, em Monsey, uma área a norte da cidade de Nova Iorque onde se concentra uma grande comunidade de judeus ortodoxos e ultraortodoxos. Segundo as testemunhas, estavam reunidas quase 100 pessoas em casa do rabino.

À CNN, uma fonte policial detalhou que o suspeito foi encontrado “coberto de sangue” quando atravessava uma ponte sobre o rio Hudson para entrar na cidade de Nova Iorque e que a matrícula do seu carro, recolhida pelas vítimas ainda perto da casa do rabino, foi identificada por um radar quando entrou nos limites da cidade de Nova Iorque.

O Conselho de Assuntos Públicos Judaicos Ortodoxos (OJPAC, na sigla em inglês) disse no Twitter que uma das vítimas foi “esfaqueada pelo menos seis vezes” e que duas delas se encontram em estado crítico.

Já este domingo, Chris Cuomo visitou a casa do rabino e falou de lá aos jornalistas, condenando o ataque mas sublinhando que este não foi um evento isolado. “É terrorismo doméstico. São pessoas que querem ferir pessoas em grande escala, querem a violência difundida em massa e tentam espalhar o medo das raças, cores e credos diferentes. É esta a definição de terrorismo”, disse o governador, pedindo leis mais fortes no estado de Nova Iorque que possam combater estas realidades extremistas.

Segundo os relatos que foram partilhados pelas testemunhas com a comunicação social, o atacante entrou pela casa com uma faca grande e começou a atacar pessoas indiscriminadamente e logo à entrada. Os convidados atiraram-lhe cadeiras e mesas e o homem fugiu para a sinagoga ao lado, onde ainda tentou entrar antes de se pôr em fuga num carro. Aron Kohn, de 65 anos, estava na casa do rabino e disse ao “New York Times” que esteve sempre “a rezar” pela sua vida. “Ele começou a atacar as pessoas logo que entrou. Não tivemos tempo para reagir.” Segundo Kohn, a faca era mesmo muito grande. “Nós vimos o atacante a abrir uma mala enorme e a tirar de lá uma faca do tamanho de um vassoura.”

“A comunidade está aterrorizada”, disse Evan Bernstein, diretor regional da Liga Anti-Difamação de Nova York, uma organização não-governamental que monitoriza ataques de ódio contra minorias. Bernstein estava na cena do crime em Monsey na noite de sábado e disse ao “New York Times” que toda a gente está “com muito, muito medo”.

A violência física e verbal contra a comunidade judaica nova-iorquina tem crescido nos últimos meses. Durante a primeira semana do Hanukkah, em Brooklyn, todos os dias se registaram episódios antissemitas: ofensas na rua, murros, empurrões, palavras de ódio entre outros. Além disso, ainda está fresco na memória da comunidade um tiroteio que matou seis pessoas num mercado de comida kosher na cidade de Nova Jérsia no início do mês.

Em Israel, o Presidente, Reuven Rivlin, expressou “choque e indignação” com o ataque e relembrou que o antissemitismo é um problema ressurgente e mundial. “A ascensão do antissemitismo não é apenas um problema judaico, e certamente não é apenas um problema do Estado de Israel”, disse em comunicado. “Devemos trabalhar juntos para enfrentar este mal, que está novamente a surgir e que é uma ameaça genuína em todo o mundo.”

As palavras de Steve Gold, da Federação Judaica de Rockland, a área à qual o bairro do ataque pertence, mostram igual comoção: “Os meus pais foram sobreviventes do Holocausto e o meu pai fez-me prometer que eu faria o possível para garantir que isso nunca aconteceria novamente. Hoje posso dizer que falhei ao meu pai. Os EUA falharam com meus pais e todos os sobreviventes do Holocausto. Isso não pode continuar", disse, citado pelo “New York Times”.

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