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Há quatro anos que não chegavam tantos migrantes à Grécia. Governo “atingiu o limite” e exige medidas à nova Comissão Europeia

Há quatro anos que não chegavam tantos migrantes à Grécia. Governo “atingiu o limite” e exige medidas à nova Comissão Europeia
NurPhoto/Getty Images

O Governo grego ameaça transformar os campos de refugiados em prisões se não houver uma ação conjunta da UE para ajudar a Grécia a lidar com o fluxo de migrantes que não era tão forte desde a crise de 2015

Há quatro anos que não chegavam tantos migrantes à Grécia. Governo “atingiu o limite” e exige medidas à nova Comissão Europeia

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Mais de 12 mil pessoas chegaram à Grécia em setembro, segundo números das Nações Unidas, o número mais alto desde que a Europa assinou o muito criticado acordo com a Turquia, em 2016, e que prevê o retorno à Turquia dos migrantes que cheguem à Grécia a partir de lá. Em outubro, o número de chegadas ultrapassou as 10 mil pessoas (10.983) e em novembro também (10.028), o que coloca o fim deste ano entre os mais caóticos nos principais pontos de chegada - Samos, Lesbos, Chios, Kos e Leros. Neste momento há cerca de 40 mil pessoas em campos de refugiados que foram idealizados para conter não mais do que entre 5000 e 5400 pessoas.

A Comissão Europeia recentemente eleita vai esboçar novas regras para os desafios da imigração, pelo menos é isso que vários Estados-membros esperam, com a Grécia e Itália a insistirem que a distribuição dos refugiados tem de ser célere e tem de envolver todos os países da UE. Na semana passada, Kyriakos Mitsotakis, o primeiro-ministro grego de centro-direita, que fez campanha prometendo uma solução mais sustentável para o problema dos refugiados, disse ao novo vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, e à responsável pelos assuntos internos da UE, Ylva Johansson, ambos com a tarefa de desenharem novas políticas para a imigração, que a Grécia “atingiu o limite” das suas capacidades e que este “não é um problema grego-turco, mas sim um assunto para toda a União Europeia e estamos à espera de ajuda e de firmeza na resolução deste problema”, disse num encontro com os responsáveis acima referidos, em Atenas.

Para tentar colmatar este problema, as autoridades gregas estão a realojar pessoas em hotéis fora das ilhas, em território continental, onde por vezes ficam separadas de serviços que precisam. Até ao início de 2020, o Governo grego espera ter mais de 20 mil pessoas, mais ou menos metade da população refugiada em acomodação temporária mas fora dos campos.

Entre 2015 e 2016 cerca de dois milhões de pessoas entraram na Europa para fugir das suas realidades e pouco depois a UE começou a procurar formas de apertar o fluxo que se estava a tornar dinamite na política de vários países europeus. O acordo com a Turquia, em 2016, que previa a possibilidade de reenviar quem chegasse da Turquia à Grécia de volta à Turquia, revelou-se um fracasso porque a política de asilo e repatriação na Grécia é lenta e as pessoas acabam por permanecer nos campos à espera ou do pesadelo da repatriação ou da reinserção social num país europeu que aceite recebê-las.

O programa de realojamento começou ainda sob o anterior Governo, de Alexis Tsipras, em outubro de 2018. Com a ajuda monetária da UE, Tsipras lançou um pedido a hotéis por toda a Grécia para que se disponibilizassem para receber refugiados. Nos primeiros seis meses, cerca de 2000 pessoas foram realojadas, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (IOM, em inglês). Desde então, segundo notícias nos jornais gregos que citam o Ministério da Proteção dos Cidadãos, a Grécia já enviou outras 10 mil pessoas das ilhas para acomodação permanente. Por um lado as condições nestes alojamentos são muito superiores às dos campos: há camas, normalmente há forma de cozinhar, prateleiras e resguardo do frio e da chuva. Mas por outro não há médicos em permanência, não há serviços de imigração, não há transportes e por isso não são raros os casos de famílias que não conseguem chegar a tempo das suas reuniões com as autoridades, o que faz com que o seu processo de transferência para outro seja atrasado ou mesmo penalizado.

Mas o pior ainda não aconteceu - e talvez com a oposição da UE não venha a acontecer. O novo Governo do partido Nova Democracia quer transformar os campos de refugiados em campos de detenção, assim que estas pessoas sejam transferidas para alojamento de média duração. “Querem mostrar que têm um sistema e que estão em controlo mas é mais retórica do que objetivo prático. Seria muito difícil implantar estes centros totalmente fechados”, disse ao jornal “The Nation” o representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) na Grécia, Phillippe Leclerc.

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