Internacional

O que dizem os votos na Escócia e na Irlanda do Norte? Os dois territórios “distanciaram-se” de Londres

Os nacionalistas escoceses foram dos grandes vencedores das eleições no Reino Unido. Liderados por Nicola Sturgeon (de cor de rosa), já falam de um novo referendo à independência da Escócia
Os nacionalistas escoceses foram dos grandes vencedores das eleições no Reino Unido. Liderados por Nicola Sturgeon (de cor de rosa), já falam de um novo referendo à independência da Escócia
Jeff J Mitchell / Getty Images

Na Escócia, os nacionalistas reforçaram a sua representação na Câmara dos Comuns. Na Irlanda do Norte, os unionistas perderam lugares. Nas eleições de quinta-feira, os dois territórios que, em 2016, rejeitaram o “Brexit” mandaram recados a Londres

Margarida Mota

Jornalista

Escócia e Irlanda do Norte, os dois territórios que, no referendo de 23 de junho de 2016, votaram contra a saída do Reino Unido da União Europeia (“Brexit”) aproveitaram as eleições de quinta-feira para mandar recados a Londres quanto ao futuro que pretendem para si.

Na Escócia — que elege 59 deputados para a Câmara dos Comuns (composta por 650 deputados) —, o Partido Nacionalista Escocês (SNP) viu a sua representação parlamentar ser reforçada em 13 assentos. A formação liderada por Nicola Sturgeon obteve 45% dos votos — mais 8,1% do que nas últimas eleições, em 2017 — elegendo 48 deputados.

Nicola Sturgeon considerou o resultado “uma mensagem clara” quanto ao futuro da Escócia — onde o Brexit foi rejeitado por 62% — e disse sentir-se agora com “um mandato renovado e reforçado”. “Boris Johnson tem um mandato para tirar a Inglaterra da União Europeia mas tem de aceitar que eu tenho um mandato para dar à Escócia a escolha sobre um futuro alternativo”, reagiu a primeira-ministra escocesa.

A estratégia do SNP passará pela realização de um segundo referendo à independência do território ainda que sem certezas absolutas de que o resultado seria diferente do que saiu da consulta popular de 18 de setembro de 2014, quando os escoceses rejeitaram a independência por 55% dos votos.

Feridas (ainda) abertas na Irlanda

Outro território britânico onde o futuro é uma grande incerteza é a Irlanda do Norte, que elege 18 deputados para Westminster. Estas eleições ditaram uma perda de influência dos unionistas (protestantes), partidários de manutenção da Irlanda do Norte como parte integrante do Reino Unido.

O Partido Democrático Unionista (DUP) perdeu dois deputados, ficando-se agora pelos oito. Uma perda simbólica envolveu o até agora líder parlamentar, Nigel Dodds, que ficou sem o assento que ocupava desde 2001. O seu lugar foi conquistado pelo “mayor” de Belfast, militante do Sinn Féin (partido republicano) cujo pai foi morto por paramilitares unionistas em 1989, durante o conflito na Irlanda do Norte.

“Não consigo deixar de pensar no meu pai e de onde viemos, não apenas como família, mas também como sociedade”, reagiu John Finucane. Durante a campanha no círculo de Belfast Norte, por onde foi eleito, Finucane apresentou-se como “o único candidato anti-Brexit que pode vencer!”.

Partidário da reunificação com a República da Irlanda, o Sinn Féin — que ganhou sete deputados — tem por hábito não concretizar a posse dos parlamentares que elege por não reconhecer a soberania do Parlamento britânico sobre a Irlanda do Norte.

A Irlanda é um dos quebra-cabeças das negociações que se seguirão entre Londres e Bruxelas relativamente aos termos em que se vai concretizar o Brexit. O Norte da ilha está obrigado a seguir Londres, o Sul é um Estado independente, membro de pleno direito da União Europeia. A Norte, o acordo de paz entre unionistas e nacionalistas tem apenas 21 anos de vida. Muitas feridas continuam abertas e o Brexit pode agravá-las.

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