Dois funcionários da Casa Branca renunciaram por preocupações com retenção da ajuda à Ucrânia
Mark Sandy fotografado a 16 de novembro, a caminho da audição cuja transcrição é agora revelada
Sarah Silbiger
A informação consta da transcrição do depoimento de Mark Sandy, ex-diretor interino do gabinete que administra o orçamento da Casa Branca, divulgada esta terça-feira. Sandy foi o único funcionário daquele gabinete a testemunhar no processo de ‘impeachment’. A comissão de Justiça começa as suas audições na próxima semana e Trump já foi convidado
Dois funcionários do gabinete que administra o orçamento da Casa Branca renunciaram recentemente aos seus cargos “em parte” devido a preocupações com a retenção da ajuda militar dos EUA à Ucrânia. A informação consta da transcrição do depoimento do ex-diretor interino daquele gabinete Mark Sandy, que foi divulgada esta terça-feira.
Sandy, o único funcionário do gabinete a testemunhar no processo de ‘impeachment’ ao Presidente Donald Trump, não revelou os nomes dos responsáveis que se demitiram. No entanto, disse que um deles trabalhava no departamento legal do gabinete e tinha uma “opinião divergente” sobre a retenção da ajuda. O outro, que se demitiu em setembro, “expressou alguma frustração por não entender o motivo da retenção”, referiu.
O depoimento, cuja transcrição é agora revelada, foi feito a 16 de novembro. Outros funcionários da Casa Branca, incluindo superiores de Sandy, que são nomeados políticos, desobedeceram às intimações do Congresso para serem ouvidos na Câmara dos Representantes. Questionado sobre se o funcionário da divisão legal apresentou a sua demissão “pelo menos em parte por causa das suas preocupações e frustrações com a retenção da ajuda à Ucrânia”, Sandy respondeu: “Sim, em parte”, escreve o jornal “The Washington Post”.
Comissão de Justiça convida Trump para audição
A divulgação do seu depoimento ocorreu no mesmo dia em que os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, deram novos passos no processo de destituição presidencial. O painel judiciário agendou para 4 de dezembro a sua primeira audição e o painel do orçamento apresentou um relatório em que alega que a Casa Branca violou a lei ao reter o dinheiro destinado à Ucrânia.
Numa carta endereçada a Trump, o presidente da comissão de Justiça da Câmara dos Representantes, Jerry Nadler, deu ao Presidente republicano até 1 de dezembro para informar a comissão se planeia participar nas audições.
“Ninguém está acima da lei”, diz juíza
No início da semana, uma juíza federal deliberou que os funcionários da Casa Branca podem ser obrigados a testemunhar perante o Congresso, rejeitando as alegações de imunidade invocadas pela Administração Trump. A decisão obriga especificamente o antigo conselheiro Don McGahn a testemunhar. Mesmo tendo recebido uma intimação, McGahn recusou-se a comparecer para ser ouvido.
Alex Wong/Getty Images
A Administração tem-se recusado a cooperar com o inquérito de ‘impeachment’ e com outras investigações lideradas pelos democratas, ordenando que atuais e antigos funcionários da Casa Branca desafiem as intimações para prestar testemunhos ou apresentar documentos. A juíza sublinhou que o Presidente “não tem poder” para impedir os seus assessores de responderem a intimações do Congresso, acrescentando que “os Presidentes não são reis”. “Ninguém, nem mesmo o chefe do poder executivo, está acima da lei”, frisou.
A decisão judicial desta segunda-feira deverá abrir um precedente sobre quem poderá ainda testemunhar nas audições de ‘impeachment’ no Congresso.
O que se segue no processo de ‘impeachment’
Trump é acusado de reter ajuda militar dos EUA à Ucrânia para pressionar Kiev a anunciar uma investigação a um rival político: o ex-vice-Presidente Joe Biden, um dos mais bem colocados para conseguir a nomeação democrata e disputar com Trump as eleições do próximo ano.
No centro do inquérito de ‘impeachment’ está uma chamada telefónica de 25 de julho entre Trump e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante a qual o Presidente norte-americano solicitou o anúncio de uma investigação a alegações de corrupção, já desmentidas, envolvendo Biden e o seu filho Hunter.
A comissão de Justiça deverá começar a redigir os artigos de ‘impeachment’ no início de dezembro. A uma votação na Câmara dos Representantes, que tem maioria democrata, seguir-se-á um julgamento no Senado, controlado pelos republicanos. Para que Trump seja destituído, é necessária uma maioria de dois terços na câmara alta do Congresso americano, um resultado considerado altamente improvável.
Clique aqui para conhecer os próximos passos (e contratempos) do processo de ‘impeachment’.