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“Ninguém está acima da lei.” Juíza delibera que funcionários da Casa Branca podem ser obrigados a testemunhar

“Ninguém está acima da lei.” Juíza delibera que funcionários da Casa Branca podem ser obrigados a testemunhar
Alex Wong/Getty Images

A decisão obriga especificamente o antigo conselheiro Don McGahn a depor. O presidente da comissão de Justiça, que o intimou a testemunhar, disse esperar que o ex-funcionário “cumpra [agora] as suas obrigações legais”. A decisão deverá abrir um precedente sobre quem poderá ainda testemunhar nas audições de ‘impeachment’ de Trump no Congresso

“Ninguém está acima da lei.” Juíza delibera que funcionários da Casa Branca podem ser obrigados a testemunhar

Hélder Gomes

Jornalista

Uma juíza federal norte-americana deliberou esta segunda-feira que os funcionários da Casa Branca podem ser obrigados a testemunhar perante o Congresso, rejeitando as alegações de imunidade invocadas pela Administração Trump. A decisão obriga especificamente o antigo conselheiro Don McGahn a testemunhar no inquérito sobre a ingerência russa nas eleições de 2016 nos EUA.

“Os funcionários do ramo executivo não estão absolutamente imunes aos procedimentos obrigatórios do Congresso, independentemente das vezes que o ramo executivo o tenha afirmado ao longo dos anos e mesmo se o Presidente instruir expressamente o não cumprimento por parte desses funcionários”, escreveu a juíza Ketanji Brown Jackson na sua decisão.

Quando em maio o Congresso intimou McGahn a testemunhar, este recusou-se a comparecer para ser ouvido. O conselheiro, que deixara o cargo em outubro de 2018, foi chamado a apresentar-se perante a comissão de Justiça da Câmara dos Representantes para responder a perguntas sobre as tentativas do Presidente Donald Trump de impedir a investigação, entretanto concluída, do procurador especial Robert Mueller sobre o envolvimento da Rússia nas eleições americanas.

Um porta-voz do Departamento de Justiça revelou entretanto à agência de notícias Reuters que apresentará recurso da decisão.

“Os Presidentes não são reis”, escreveu juíza

Meses mais tarde, a mesma comissão iniciou os procedimentos de ‘impeachment’ contra Trump. A Administração tem-se recusado a cooperar com o inquérito e com outras investigações lideradas pelos democratas, ordenando que atuais e antigos funcionários da Casa Branca desafiem as intimações para prestar testemunhos ou apresentar documentos.

A juíza sublinhou que o Presidente “não tem poder” para impedir os seus assessores de responderem a intimações do Congresso, acrescentando que “os Presidentes não são reis”. “Ninguém, nem mesmo o chefe do poder executivo, está acima da lei”, frisou. Ainda assim, a juíza esclareceu que McGahn poderá invocar privilégios executivos, “quando apropriado”, para proteger informações potencialmente sensíveis.

Em reação, o presidente da comissão de Justiça, Jerry Nadler, disse esperar que o antigo conselheiro “cumpra as suas obrigações legais e prontamente se apresente perante a comissão”. A decisão judicial desta segunda-feira deverá abrir um precedente sobre quem poderá ainda testemunhar nas audições de ‘impeachment’ no Congresso.

O que se segue no processo de ‘impeachment’

Trump é acusado de reter ajuda militar dos EUA à Ucrânia para pressionar Kiev a anunciar uma investigação a um rival político: o ex-vice-Presidente Joe Biden, um dos mais bem colocados para conseguir a nomeação democrata e disputar com Trump as eleições do próximo ano.

No centro do inquérito de ‘impeachment’ está uma chamada telefónica de 25 de julho entre Trump e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante a qual o Presidente norte-americano solicitou o anúncio de uma investigação a alegações de corrupção, já desmentidas, envolvendo Biden e o seu filho Hunter.

A comissão de Justiça deverá começar a redigir os artigos de ‘impeachment’ no início de dezembro. Após uma votação na Câmara dos Representantes, que tem maioria democrata, seguir-se-á um julgamento no Senado, controlado pelos republicanos. Para que Trump seja destituído, é necessária uma maioria de dois terços na câmara alta do Congresso americano, um resultado considerado altamente improvável.

Clique aqui para conhecer os próximos passos (e contratempos) do ‘impeachment’.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hgomes@expresso.impresa.pt

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