William Taylor, o principal diplomata na Ucrânia, disse esta quarta-feira que ficou surpreendido por Donald Trump ter ordenado uma suspensão ao apoio financeiro à Ucrânia, que poderia ser por tempo indeterminado, para garantir que o Governo ucraniano investigaria o caso de corrupção envolvendo Hunter Biden, filho de Joe Biden, atual candidato nas eleições primárias do Partido Democrata.
Taylor afirmou-o perante o Congresso norte-americano, na qualidade de testemunha, no dia em que arrancaram as audições públicas do inquérito para destituição do Presidente dos Estados Unidos. Em causa está a alegada pressão sobre um líder estrangeiro para proveito do Presidente norte-americano.
Ainda esta quarta-feira será ouvido George Kent, funcionário sénior do Departamento de Estado.
As audiências públicas do processo de 'impeachment' estão a ser transmitidas em direto por vários canais televisivos norte-americanos Segundo a Casa Branca, Trump não está a assistir aos trabalhos no Congresso, porque “está a trabalhar”; ainda que na própria conta do Twitter da Casa Branca tenha sido publicado um vídeo onde o Presidente se insurge contra a investigação, que considera o “maior golpe da história da política americana”.
William Taylor apresentou factos que estão na base da argumentação para o inquérito para a destituição: a retenção de cerca de 400 milhões de dólares (quase 400 milhões de euros) de ajuda militar à Ucrânia, até que o Presidente desse país da Europa de Leste aceitasse investigar a investigar a atividade da família de Joe Biden, ex-vice-Presidente e atual rival político do Presidente norte-americano.
Assunto “simples e terrível”
Na sua declaração inicial, o presidente do comité de inteligência da Câmara de Representantes, Adam Schiff, mencionou o papel relevante de Rudolph Giuliani, advogado do Presidente, na pressão sobre o Presidente ucraniano para que investigasse um alegado caso de corrupção envolvendo um filho de Joe Biden, criando um canal diplomático paralelo e ilegal nas relações com outros países.
Schiff foi claro, ao explicar que as audiências públicas visam esclarecer se Trump tentou explorar a vulnerabilidade da Ucrânia, condicionando a disponibilidade da Casa Branca para ajudar a Ucrânia à vontade de este país ajudar a sua reeleição. “O assunto é tão simples e terrível quanto isso”, concluiu.
Schiff criticou ainda Trump por se ter recusado a cooperar com o inquérito para a destituição, dizendo que o Congresso considerará se houve obstrução de justiça por parte da Casa Branca, o que poderá constituir novo terreno para o processo de 'impeachment'.
Sobre o caso ucraniano, o diplomata William Taylor disse que Donald Trump tinha uma política para com a Ucrânia mais competente do que aquela conduzida pelo seu antecessor, Barack Obama, mas que o atual Governo deitou por terra essa estratégia, por razões políticas domésticas, referindo-se ao pedido de investigação a Joe Biden.
O principal diplomata norte-americano na Ucrânia explicou que várias autoridades do governo, incluindo a diretora da CIA Gina Haspel, tentaram convencer Trump a suspender o congelamento da ajuda financeira à Ucrânia, mas que o Presidente demorou muito a autorizar a transferência de dinheiro (que apenas ocorreria um mês depois do polémico telefonema ao Presidente ucraniano).
Taylor confirmou que um seu funcionário lhe disse que ouviu Trump a falar ao telefone com Gordon Sondland, embaixador dos EUA na UE, numa conversa em que o Presidente perguntava sobre “investigações”, o que Taylor entendeu como investigações ucranianas nas eleições de 2016 e Joe Biden.
Segundo Taylor, Sondland disse ao funcionário que Trump se importava mais com uma investigação sobre Biden do que com qualquer outra política relacionada com a Ucrânia.
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