Internacional

Tirar comida de caixotes do lixo é roubo? Tribunal Constitucional alemão vai decidir

O caso surge por causa de duas jovens mulheres que foram multadas em 223 euros cada uma por terem enchido as mochilas com géneros retirados do lixo de um supermercado

Luís M. Faria

Jornalista

O Tribunal Constitucional Federal alemão vai ocupar-se de uma questão insólita: se tirar comida de caixotes de lixo é ilegal. O caso surgiu por causa de duas estudantes que o ano passado foram multadas por terem retirado fruta, legumes e outros géneros de um contentor do supermercado Edeka, perto de Munique.

Foi em 28 de junho de 2018 que Franziska Stein, de 26 anos, e Caroline Krüger, de 28, foram apanhadas pela polícia com mochilas cheias de comida proveniente de um contentor cuja fechadura tinham acabado de forçar. Logo na altura foram obrigadas a repôr os géneros no lixo. A seguir foram levadas a tribunal e condenadas a pagar 223 euros cada uma, mais trabalho comunitário.

Esse primeiro veredito teve recurso para o tribunal superior da Baviera, que agora o confirmou. Assim, as duas mulheres vão recorrer para a instância judicial última do país. Embora tecnicamente o que elas fizeram seja roubo, pois os conteúdos do lixo são propriedade de quem o produziu até serem levados pelas equipas de recolha, muita gente acha que quando se trata de dar uma utilidade a algo que vai ser destruído essa regra não conta.

Outros argumentos revelantes têm a ver com os elevados custos que o tratamento do lixo implica, e com a quantidade de gente que sofre com não ter alimentação adequada. Tudo somado, é possível que o caso, pela publicidade que está a ter, leve a uma alteração da lei.

Ao Bundestag já chegou uma petição nesse sentido, e a concretizar-se não seria inédito. Em frança, por exemplo, desde 2016 que é obrigatório os supermercados acima de 400 metros quadrados coordenarem-se com ONGs que distribuem comida para aproveitar os géneros que já não vão ser vendidos.

Noutros países também existem programas, obrigatórios ou voluntários. Mas mesmo nesses lugares o desperdício de comida continua a existir, estimando-se em muitos milhões de toneladas anuais.

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