‘Impeachment’. Audiências passam a ser públicas na próxima semana. Caso contra Trump está a crescer, diz democrata
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“Estamos a perceber cada vez melhor até que ponto o Presidente se serviu de departamentos do Governo para o objetivo ilícito de desenterrar lixo sobre um adversário político”, referiu Adam Schiff, que supervisiona a investigação. A partir de quarta-feira, serão ouvidos o embaixador em funções e a ex-embaixadora norte-americana na Ucrânia
Os democratas no Congresso dos EUA agendaram para a próxima semana as primeiras audiências públicas na investigação que, no limite, pode levar à destituição do Presidente Donald Trump. Até ao momento, as testemunhas no processo foram ouvidas à porta fechada por congressistas de três comissões da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso, onde o Partido Democrata é maioritário.
O presidente da comissão de Informação da Câmara, Adam Schiff, que supervisiona a investigação, disse esta quarta-feira que um caso de ‘impeachment’ contra o Presidente está a crescer. “Estamos a perceber cada vez melhor o que aconteceu durante o último ano e até que ponto o Presidente se serviu de departamentos do Governo para o objetivo ilícito de desenterrar lixo sobre um adversário político”, referiu.
O inquérito centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente Joe Biden. Biden é um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às presidenciais do próximo ano em que Trump tentará a reeleição. O atual Presidente tem feito acusações de corrupção, já refutadas, sobre Biden e o filho Hunter, que trabalhou para uma empresa ucraniana de gás.
A partir da próxima quarta-feira, as audiências no Capitólio serão transmitidas ao vivo, com congressistas democratas e republicanos a interrogarem as testemunhas.
Embaixador na Ucrânia denunciou contrapartida “explícita” e canal não oficial com Kiev
Um dos primeiros a depor publicamente, já na quarta-feira da próxima semana, será o embaixador em funções dos EUA na Ucrânia, William Taylor, que no mês passado, numa audição privada, denunciou um ‘quid pro quo’, isto é, uma contrapartida “explícita”, algo que Trump sempre negou. Segundo o relato de Taylor, o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland, indicou-lhe que a ajuda militar à Ucrânia e um encontro na Sala Oval entre o Presidente Trump e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, estariam dependentes do anúncio de uma investigação. Em concreto, o Presidente ucraniano deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter Biden.
William Taylor, embaixador dos EUA na Ucrânia
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O advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, que ajudou a transmitir aquela exigência, fazia parte de um canal não oficial entre a Casa Branca e a Ucrânia, revelou ainda Taylor. O diplomata disse também ter sido informado de que a Ucrânia teria de “pagar” antes de Trump “assinar um cheque”. E acrescentou que temeu que os ucranianos morressem às mãos de tropas lideradas pela Rússia em resultado do atraso na prometida ajuda militar americana, no valor de quase 400 milhões de dólares (mais de 360 milhões de euros).
Taylor queixou-se ao secretário de Estado, Mike Pompeo, de que era uma “loucura” reter a ajuda mas este não respondeu diretamente à reclamação, revelou ainda. Por fim, o diplomata referiu que foi pedido sigilo relativamente àquela exigência e que ele e outros responsáveis não foram informados dos desenvolvimentos posteriores.
Também na quarta-feira irá testemunhar o vice-secretário adjunto dos EUA para os assuntos europeus e euroasiáticos, George Kent. Segundo relatos da imprensa, o diplomata já terá dito aos congressistas que funcionários do Departamento de Estado haviam sido desconsiderados para a condução das relações com a Ucrânia em favor de nomeados políticos. Kent testemunhou que foi advertido por um superior para “não levantar ondas” depois de manifestar preocupação com a atuação de Giuliani em relação a Kiev.
A embaixadora na Ucrânia que foi abruptamente afastada
Dois dias mais tarde, na sexta-feira da próxima semana, é a vez de a ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia Marie Yovanovitch ser ouvida. A diplomata, que em maio foi abruptamente afastada do cargo, revelou no mês passado ter tido conhecimento de que Giuliani estaria interessado ou que já estaria a comunicar com alguém na Ucrânia, no final de 2018, com o propósito de investigar informações relevantes para o jogo político interno.
Marie Yovanovitch
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Foi através do Governo ucraniano que a ex-embaixadora soube dos contactos entre o antigo procurador-geral da Ucrânia, Yuriy Lutsenko, e o advogado pessoal de Trump. “[Disseram-me] que tinham planos e que iam fazer coisas, incluindo comigo”, disse Yovanovitch na audição. O staff da ex-embaixadora alertou-a de que Lutsenko a queria prejudicar nos EUA. A destituição, disse, foi consequência daquelas reuniões.
A ajuda militar à Ucrânia foi finalmente libertada em setembro, depois de um denunciante ter dado o alerta sobre um telefonema de 25 de julho entre os Presidentes Trump e Zelensky. A queixa do denunciante levou os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, a darem início a uma investigação de ‘impeachment’.