O tenente-coronel Alexander Vindman, oficial condecorado do Exército e especialista em assuntos ucranianos no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse esta terça-feira que a transcrição da chamada telefónica entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o seu homólogo da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, omitiu palavras e frases importantes.
Vindman fez parte de um pequeno grupo de funcionários da Casa Branca designados para acompanhar o polémico telefonema de 25 de julho, cuja divulgação levou os democratas a iniciar os procedimentos de ‘impeachment’. O responsável, ouvido pelos investigadores do processo de destituição presidencial, disse ter ficado “perturbado” com a exigência de Trump para Kiev investigar o rival político Joe Biden.
De acordo com três fontes com conhecimento do testemunho, citadas pelo jornal “The New York Times”, as omissões na transcrição incluem referências à Burisma, uma empresa ucraniana de gás natural que contratou um dos filhos de Joe Biden, Hunter Biden, para integrar o seu conselho de administração. Joe Biden, ex-vice-Presidente de Barack Obama, está na linha da frente da corrida à nomeação democrata para as eleições do próximo ano, em que Trump tentará a reeleição. Vindman tentou corrigir as omissões mas as suas edições não foram incorporadas, revela o “Times”.
“Investigar Biden e o filho nada tem a ver com segurança nacional”
Na sua declaração de abertura, revelada na véspera, o oficial do Exército referiu: “Não achava apropriado exigir que um Governo estrangeiro investigasse um cidadão dos EUA, e estava preocupado com as implicações no apoio do Governo americano à Ucrânia”. “É meu dever sagrado e uma honra promover e defender o nosso país, independentemente de partidos ou políticas”, acrescentou.
O oficial referiu-se ainda a uma reunião, a 10 de julho, durante a qual Gordon Sondland, um dos principais doadores de Trump e embaixador dos EUA na União Europeia, terá dito que, para conseguirem um encontro com Trump, os ucranianos teriam de “investigar as eleições de 2016, os Bidens e a Burisma”.
“Eu disse ao embaixador Sondland que as suas declarações eram inapropriadas, que o pedido para investigar Biden e o seu filho nada tinha a ver com segurança nacional, e que tais investigações não eram algo em que o Conselho de Segurança Nacional iria envolver-se ou pressionar”, prosseguiu. E concluiu, dizendo: “Uma Ucrânia forte e independente é fundamental para os interesses de segurança nacional dos EUA porque a Ucrânia é um baluarte contra a agressão russa.”
Vindman apareceu no Capitólio com uniforme do Exército e condecorações
O testemunho de Vindman foi o primeiro de um funcionário da Casa Branca que ouviu a polémica chamada telefónica, revelada por um denunciante e que desencadeou o processo de destituição presidencial. “Não sei quem é o denunciante e não me sinto à vontade para especular”, sublinhou.
As suas declarações reforçam os testemunhos anteriores da sua antiga chefe no Conselho de Segurança Nacional, Fiona Hill, e do embaixador interino dos EUA na Ucrânia, William Taylor.
Vindman e a sua família fugiram da União Soviética quando ele tinha três anos, e ele descreve-se simultaneamente como um imigrante e um patriota. O oficial apareceu no Capitólio com o seu uniforme do Exército dos EUA, que trazia um distintivo e uma medalha, atribuída na sequência dos ferimentos que sofreu na deflagração de um explosivo no Iraque.
Declarações “extremamente perturbadoras” de uma testemunha “muito credível”
A presidente interina da comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes, a democrata Carolyn Maloney, disse à NBC que as declarações de Vindman foram “extremamente, extremamente, extremamente perturbadoras”. Debbie Wasserman Schultz, que faz parte daquela comissão, descreveu o oficial como uma testemunha “muito credível”.
Em reação, Trump escreveu no Twitter: “Supostamente, de acordo com os media corruptos, a chamada com a Ucrânia “preocupou” a testemunha ‘Never Trumper’. Ele estava na mesma chamada que eu? Não é possível! É favor pedirem-lhe para ler a transcrição da chamada. Caça às bruxas!”.
O testemunho de Vindman aconteceu dois dias antes de uma votação para autorizar o processo de ‘impeachment’, solicitado pela presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e que decorrerá esta quinta-feira. A convocatória da líder democrata seguiu-se às críticas do Partido Republicano de que o processo visa apenas ganhos políticos e impede Trump de se defender convenientemente.
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