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Embaixador dos EUA na Ucrânia denuncia contrapartida “explícita” e canal não oficial com Kiev

William Taylor, embaixador dos EUA na Ucrânia
William Taylor, embaixador dos EUA na Ucrânia
Bill O'Leary/The Washington Post/Getty Images

Segundo o relato de William Taylor, a ajuda militar à Ucrânia e um encontro entre Trump e o Presidente ucraniano estariam dependentes do anúncio de uma investigação ao filho do democrata Joe Biden. A Ucrânia teria de “pagar” antes de Trump “assinar um cheque”, revelou, dizendo temer que ucranianos morressem em resultado do atraso na ajuda dos EUA

Embaixador dos EUA na Ucrânia denuncia contrapartida “explícita” e canal não oficial com Kiev

Hélder Gomes

Jornalista

O embaixador dos EUA na Ucrânia, William Taylor, fez esta terça-feira o relato mais explícito, até à data, da insistência de Donald Trump, junto do seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que este anunciasse publicamente uma investigação a rivais políticos do Presidente norte-americano. A avaliação é feita pelo jornal “The New York Times”, que destaca “seis revelações-chave da declaração de abertura de Taylor” aos congressistas no âmbito do processo de ‘impeachment’.

Em primeiro lugar, o diplomata descreveu um ‘quid pro quo’, isto é, uma contrapartida “explícita”, algo que Trump sempre negou. Segundo o relato de Taylor, o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland, indicou-lhe que a ajuda militar à Ucrânia e um encontro na Sala Oval entre Trump e Zelensky estariam dependentes do anúncio de uma investigação. Em concreto, o Presidente ucraniano deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter Biden, filho do ex-vice-Presidente e atual candidato à nomeação democrata para as eleições de 2020, Joe Biden.

O advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, que ajudou a transmitir aquela exigência, fazia parte de um canal não oficial entre a Casa Branca e a Ucrânia, revelou ainda Taylor. A existência de dois canais, um oficial e outro não oficial, foi outra das revelações.

Taylor queixou-se a Pompeo mas este tê-lo-á ignorado

O diplomata disse ainda que foi informado de que a Ucrânia teria de “pagar” antes de Trump “assinar um cheque”. E acrescentou temer que os ucranianos morressem às mãos de tropas lideradas pela Rússia em resultado do atraso na ajuda militar americana.

Dois funcionários do conselho de segurança nacional ter-lhe-ão dito que o então conselheiro John Bolton ficou muito perturbado com a exigência de uma investigação. Taylor queixou-se ao secretário de Estado, Mike Pompeo, de que era uma “loucura” reter a ajuda mas este não respondeu diretamente à reclamação, revelou ainda.

Por fim, o diplomata referiu que foi pedido sigilo relativamente àquela exigência e que ele e outros responsáveis não foram informados dos desenvolvimentos posteriores.

‘Impeachment’ é “farsa” e “crime fraudulento”, diz Trump

As acusações de que o Presidente americano pressionou o seu homólogo ucraniano para investigar Biden, um dos principais rivais democratas na tentativa de reeleição de Trump no próximo ano, levaram a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, a anunciar em setembro uma investigação formal de ‘impeachment’.

As preocupações com uma chamada telefónica entre Trump e Zelensky, realizada a 25 de julho, e possíveis ameaças de Trump à Ucrânia chegaram ao Congresso americano através do relatório de um denunciante.

Referindo-se ao ‘impeachment’ como uma “farsa” e um “crime fraudulento contra o povo americano”, Trump acusou os líderes democratas de desonestidade e traição e de se concentrarem em “tretas”, sublinhando, contudo, que iria “cooperar sempre” com o Congresso. Mas os democratas acusam a Administração de bloquear as investigações do Congresso e de se recusar a responder aos seus pedidos.

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