O embaixador dos EUA na Ucrânia, William Taylor, fez esta terça-feira o relato mais explícito, até à data, da insistência de Donald Trump, junto do seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que este anunciasse publicamente uma investigação a rivais políticos do Presidente norte-americano. A avaliação é feita pelo jornal “The New York Times”, que destaca “seis revelações-chave da declaração de abertura de Taylor” aos congressistas no âmbito do processo de ‘impeachment’.
Em primeiro lugar, o diplomata descreveu um ‘quid pro quo’, isto é, uma contrapartida “explícita”, algo que Trump sempre negou. Segundo o relato de Taylor, o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland, indicou-lhe que a ajuda militar à Ucrânia e um encontro na Sala Oval entre Trump e Zelensky estariam dependentes do anúncio de uma investigação. Em concreto, o Presidente ucraniano deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter Biden, filho do ex-vice-Presidente e atual candidato à nomeação democrata para as eleições de 2020, Joe Biden.
O advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, que ajudou a transmitir aquela exigência, fazia parte de um canal não oficial entre a Casa Branca e a Ucrânia, revelou ainda Taylor. A existência de dois canais, um oficial e outro não oficial, foi outra das revelações.
Taylor queixou-se a Pompeo mas este tê-lo-á ignorado
O diplomata disse ainda que foi informado de que a Ucrânia teria de “pagar” antes de Trump “assinar um cheque”. E acrescentou temer que os ucranianos morressem às mãos de tropas lideradas pela Rússia em resultado do atraso na ajuda militar americana.
Dois funcionários do conselho de segurança nacional ter-lhe-ão dito que o então conselheiro John Bolton ficou muito perturbado com a exigência de uma investigação. Taylor queixou-se ao secretário de Estado, Mike Pompeo, de que era uma “loucura” reter a ajuda mas este não respondeu diretamente à reclamação, revelou ainda.
Por fim, o diplomata referiu que foi pedido sigilo relativamente àquela exigência e que ele e outros responsáveis não foram informados dos desenvolvimentos posteriores.
‘Impeachment’ é “farsa” e “crime fraudulento”, diz Trump
As acusações de que o Presidente americano pressionou o seu homólogo ucraniano para investigar Biden, um dos principais rivais democratas na tentativa de reeleição de Trump no próximo ano, levaram a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, a anunciar em setembro uma investigação formal de ‘impeachment’.
As preocupações com uma chamada telefónica entre Trump e Zelensky, realizada a 25 de julho, e possíveis ameaças de Trump à Ucrânia chegaram ao Congresso americano através do relatório de um denunciante.
Referindo-se ao ‘impeachment’ como uma “farsa” e um “crime fraudulento contra o povo americano”, Trump acusou os líderes democratas de desonestidade e traição e de se concentrarem em “tretas”, sublinhando, contudo, que iria “cooperar sempre” com o Congresso. Mas os democratas acusam a Administração de bloquear as investigações do Congresso e de se recusar a responder aos seus pedidos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hgomes@expresso.impresa.pt