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Tropas dos EUA que estão a sair da Síria vão para o Iraque – e não para casa como Trump prometeu

Tropas dos EUA que estão a sair da Síria vão para o Iraque – e não para casa como Trump prometeu
DELIL SOULEIMAN/AFP/Getty Images

O secretário norte-americano da Defesa esclareceu que as forças seriam usadas para “ajudar a defender o Iraque” e combater uma tentativa do Daesh de se reestabelecer naquele país. Num tweet, entretanto apagado, Trump sublinhava que as autoridades americanas tinham “garantido o petróleo” e que estavam “a trazer os soldados para casa”

Tropas dos EUA que estão a sair da Síria vão para o Iraque – e não para casa como Trump prometeu

Hélder Gomes

Jornalista

Todas as tropas dos EUA que estão a abandonar o norte da Síria deverão ser transferidas para a parte ocidental do Iraque, confirmou este domingo o secretário norte-americano da Defesa, Mark Esper. De acordo com os planos atuais, cerca de mil soldados serão mobilizados para ajudar a impedir o ressurgimento do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico.

O Presidente Donald Trump tinha prometido fazer regressar os soldados aos EUA.

Numa deslocação à Síria, Esper esclareceu que as forças americanas seriam usadas para “ajudar a defender o Iraque” e combater uma tentativa do Daesh de se reestabelecer naquele país. “A retirada dos EUA do nordeste da Síria continua a bom ritmo. Estamos a falar de semanas, não de dias. O plano atual é que essas forças se reposicionem no oeste do Iraque”, acrescentou.

Num tweet, entretanto apagado mas recuperado pela BBC, Trump citou o secretário da Defesa, referindo-se a este como “Mark Esperanto”: “O cessar-fogo está a aguentar-se bem. Houve algumas escaramuças que terminaram rapidamente. [Há] novas áreas a serem repovoadas com os curdos.” Trump escrevia ainda que “os soldados dos EUA não estão em zonas de combate ou de cessar-fogo”, sublinhando que as autoridades americanas tinham “garantido o petróleo” e que estavam “a trazer os soldados para casa”.

O cessar-fogo e as preocupações de Pelosi

Na quinta-feira, Washington e Ancara acordaram uma pausa de cinco dias nas operações militares turcas contra as milícias curdas na Síria. À luz do cessar-fogo temporário, as Forças Democráticas Sírias (SDF), lideradas por curdos que a Turquia considera “terroristas”, concordaram retirar de uma área de cerca de 120 quilómetros.

Os dois lados já se acusaram mutuamente de violarem a trégua.

Entretanto, a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e um grupo de congressistas democratas e republicanos terminaram este domingo uma visita ao Afeganistão. A líder democrata e a restante comitiva criticaram duramente a decisão de Trump de retirar as tropas americanas do norte da Síria, decisão que abriu caminho à ofensiva turca.

“Com o aprofundamento da crise na Síria após a incursão da Turquia, a nossa delegação encetou discussões vitais sobre o impacto na estabilidade regional, no aumento do fluxo de refugiados e na perigosa abertura ao Daesh, ao Irão e à Rússia”, anunciou Pelosi em comunicado.

Como começou a ofensiva turca

As tropas de Ancara e os combatentes sírios apoiados pela Turquia lançaram uma ofensiva escassos dias depois de Trump ter anunciado que iria retirar as tropas americanas do local – na prática, abrindo caminho à ofensiva turca.

A operação de Ancara visa as SDF, formadas por curdos financiados e treinados pelos EUA para combaterem o Daesh, desde 2015. Os curdos conseguiram derrotá-lo em março mas perderam 11 mil soldados. No entanto, Ancara alega que a maior unidade das SDF, o YPG curdo, é um grupo terrorista ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que luta há décadas contra o Estado turco.

A decisão de Trump de abandonar as SDF perante um iminente ataque turco tem sido amplamente criticada, mesmo pelos seus aliados mais indefetíveis, e descrita como uma traição a um parceiro militar dos EUA. A medida terá como consequências mais um desastre humanitário e um possível ressurgimento do Daesh, sublinham os críticos.

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