David Sassoli saiu algo exasperado do encontro com o primeiro-ministro britânico. Numa conversa com vários jornalistas em Londres, o presidente do Parlamento Europeu não escondeu alguma irritação com o que considera ser a falta de propostas de Boris Johnson para ultrapassar o impasse do Brexit.
"Achei que estava num talk show de televisão", disse Sassoli sobre o encontro desta terça-feira à tarde, adiantando que o tom da conversa foi "muito franco" e "muito sincero" em vez de burocrático. Boris Johnson voltou a dizer-lhe que quer deixar a União Europeia no dia 31 de outubro e que não pretende pedir mais tempo. "Ele disse que não vai pedir uma extensão", adianta Sassoli.
E, sem prolongamento da permanência, nem acordo, o que resta é uma saída caótica dos britânicos no final do mês. O parlamento britânico já legislou para impedir que aconteça, mas o desfecho do Brexit continua incerto e confuso.
O italiano que lidera o Parlamento diz-se "muito preocupado" com a "falta de progressos". Esta terça-feira de manhã, tanto Sassoli, como Johnson, falaram com Angela Merkel, mas a conversa entre o britânico e a chanceler alemã não correu bem e terá deixado claro que a posição de Londres está em rota de colisão com a dos 27. Boris Johnson quer a Irlanda do Norte fora de uma União Aduaneira com a União Europeia e para Berlim é óbvio que essa solução não funciona.
O presidente do Parlamento Europeu concorda e reforça o recado de Berlim. "Não vamos aceitar um acordo que ponha em causa o Acordo de Sexta-Feira Santa e o processo de paz ou que comprometa a integridade do nosso Mercado Único", diz Sassoli. E a explicação é simples: fora de uma união aduaneira, os controlos alfandegários entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda tornam-se inevitáveis e isso significa o regresso de uma fronteira onde não deveria voltar a estar.
Cabe a Londres fazer propostas credíveis
De quem é a culpa do impasse? O jogo intensifica-se, mas Sassoli não tem dúvidas de que cabe a Londres fazer propostas credíveis porque as que foram feitas até agora não o são. "Esta é uma responsabilidade do sr. Johnson e do Governo britânico", diz aos jornalistas, adiantando que as "ideias" do Reino Unido para substituir o mecanismo de salvaguarda para as Irlandas (backstop), "estão longe de algo com que o Parlamento Europeu possa concordar".
Sassoli é duro no tom e nas críticas às explicações que Boris Johnson lhe deu, para concluir que ele "não quer um acordo". Ainda assim, acredita que a União Europeia está disponível "até ao último minuto" para tentar alcançá-lo", haja "vontade" também do outro lado. Ao mesmo tempo, avisa: é preciso que o Reino Unido apresente algo concreto para ser discutido.
A uma semana da próxima Cimeira de Líderes, e a três do Halloween, o impasse mantém-se e intensifica-se o braço de ferro entre Londres e Bruxelas. Em Bruxelas, a Comissão Europeia diz que não houve qualquer ruptura das negociações e que a discussão continua ao nível técnico. "Estamos a dar a oportunidade ao Reino Unido de apresentar as suas propostas mais detalhadamente”, diz a porta-voz Mina Andreeva.
Já o Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não esconde a falta de paciência crescente e na rede social Twitter escreveu a Boris Johnson: "não quer um acordo, não quer uma extensão, não quer revogar o pedido de saída, quo vadis?". Sassoli vai pelo mesmo caminho e tenta pressionar Londres a definir o que quer.
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