Netanyahu fala em “momento histórico”, Gantz e Lieberman em “unidade”. Como será o futuro Governo de Israel?
Benjamin Netanyahu
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Novas eleições, as segundas em cinco meses, o mesmo empate: o Likud e a coligação Azul e Branco deverão conquistar o mesmo número de assentos parlamentares, como aconteceu em abril. Num país que nunca teve um Governo de partido único, a próxima coligação, tal como a última, deverá resultar de tensas negociações entre um punhado de partidos
O Likud (de direita), do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e a coligação Kahol Lavan (Azul e Branco, de centro), liderada pelo antigo chefe do Exército Benny Gantz, conseguiram o mesmo número de assentos parlamentares: 32 num total de 120 lugares no Knesset. É este o resultado provisório das eleições legislativas desta terça-feira em Israel quando estão contados mais de 91% dos votos.
Com este empate técnico, que mimetiza os resultados das eleições de abril (na altura, as duas formações conquistaram 35 deputados cada uma), quem terá mais condições para formar Governo e de que tipo? Recorde-se que, face à incapacidade de Netanyahu de formar uma coligação, algo sem precedentes na história do país, o Knesset votou no final de maio pela sua própria dissolução de modo a inviabilizar a nomeação de Gantz como primeiro-ministro designado. Também esta votação parlamentar, que abriu caminho a um segundo ato eleitoral em cinco meses, constituiu uma estreia.
Já na madrugada desta quarta-feira, Netanyahu prometeu que formará o próximo elenco governativo. Entre cânticos de oposição a um “Governo de unidade”, o primeiro-ministro assegurou que “todos os parceiros do Likud querem avançar juntos para construir um Governo forte e não permitir um perigoso Governo antissionista”. “Vamos unir-nos nas missões que temos pela frente no Likud e em Israel. Ainda estamos a aguardar os resultados finais mas uma coisa é certa: o Estado de Israel está num momento histórico de grande desafios e oportunidades diplomáticas e de segurança”, sublinhou, citado pelo jornal “The Jerusalem Post”.
“Precisamos de manter as nossas conquistas”, reforçou, lembrando as ameaças que o Irão representa e as oportunidades oferecidas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump. “As negociações com Trump decidirão o futuro de Israel durante décadas. Por isso, Israel precisa de um Governo forte, estável e sionista”, defendeu Netanyahu.
“Sim à unidade! Não à corrupção!”
Benny Gantz
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O líder da coligação Azul e Branco, Benny Gantz, já tinha falado, numa altura em que os resultados parciais lhe davam uma ligeira vantagem sobre Netanyahu. O antigo militar disse que está na hora de curar as feridas da sociedade israelita e prometeu que a sua formação partidária irá começar a trabalhar de imediato num amplo Governo de unidade nacional. “De acordo com os resultados atuais, o povo israelita depositou a sua confiança em nós pela segunda vez. Não ao incitamento e à divisão, sim à unidade! Não à corrupção, sim às mãos limpas! Não às tentativas de destruir a democracia israelita, sim ao sentido de Estado e a Israel como Estado democrático e judaico!”, clamou.
A referência de Gantz à corrupção não foi inocente. Netanyahu poderá ser acusado em três casos de corrupção, incluindo um de suborno, devendo ser sujeito a uma audiência de pré-acusação com o procurador-geral no último dia previsto para o Presidente de Israel, Reuven Rivlin, escolher um candidato a primeiro-ministro.
“Já falei com Amir Peretz [líder do Partido Trabalhista] e com Nitzan Horowitz [líder do Meretz, de esquerda] e vamos encontrar-nos nos próximos dias. Falarei com Avigdor Lieberman [líder do Yisrael Beiteinu, nacionalista] e com outros. Tenciono falar com todos”, disse Gantz. “Apelo a todos os meus rivais políticos para que deixem as divergências de lado e trabalhem juntos para criar uma sociedade justa e igual para todos os cidadãos de Israel”, acrescentou.
A ameaça de Lieberman sobre Netanyahu
Avigdor Lieberman
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Lieberman, que se demitiu do cargo de ministro da Defesa no ano passado na sequência de um cessar-fogo em Gaza (uma “rendição ao terror”, segundo ele) e fundou o Yisrael Beiteinu, reforçou a sua posição como peça fundamental nas coligações governativas em Israel. O partido poderá conquistar entre oito e dez assentos, um aumento significativo face aos cinco conquistados em abril.
O dirigente assegurou na última noite que o seu partido cumprirá a promessa de campanha de garantir um Governo de unidade nacional sem os partidos religiosos ultraortodoxos. “A nossa segurança e a nossa economia estão numa situação de emergência, pelo que o Estado tem de ter um amplo Governo nacional e liberal e não um que luta pela sobrevivência de uma semana para a outra e entre um voto de censura e outro”, enfatizou.
A animosidade entre Lieberman e Netanyahu, antigos parceiros de Governo, coloca ao primeiro-ministro um problema sério quanto à continuação da sua carreira política, escreve o “Jerusalem Post”. “Apoiaremos um dos dois líderes – Benny Gantz ou Benjamin Netanyahu – que se mostre favorável a um Governo de unidade. Se algum deles não estiver interessado nisso, não o recomendaremos ao Presidente” para formar uma coligação, esclareceu.
Israel nunca teve um Governo de partido único e a próxima coligação, tal como a última, deverá resultar de tensas negociações entre um punhado de partidos. As negociações podem arrastar-se durante dias ou semanas.
Netanyahu é primeiro-ministro desde 2009, tendo anteriormente ocupado o cargo entre 1996 e 1999. Em julho, ultrapassou o primeiro-ministro fundador de Israel, David Ben-Gurion, em termos de longevidade naquelas funções.