A empresa farmacêutica norte-americana Purdue Pharma, que é alvo de mais de duas mil ações judiciais por ter enganado médicos, farmacêuticos e consumidores sobre os efeitos da oxicodona, tendo contribuído desse modo para a epidemia de opioides que se vive nos EUA, prepara-se para declarar falência, tendo também anunciado o pagamento de dez mil milhões de dólares (cerca de nove mil milhões de euros) para resolver as ações judiciais que foram já movidas contra si.
A empresa farmacêutica, detida pelos multimilionários Sackler, tem sido acusada por estados norte-americanos (quase todos instauraram processos) e governos locais de ter feito publicidade enganosa do analgésico opioide oxicodona, que introduziu no mercado dos EUA em 1996, omitindo os elevados riscos de dependência. Isso levou a um aumento acentuado do número de prescrições deste medicamento e, mais tarde, a um aumento do consumo de heroína, seja porque as prescrições cessavam e a dependência já estava criada, seja por causa do preço de venda.
Segundo dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla original), morreram cerca de 400 mil pessoas entre 1999 e 2017 de overdose de droga e das mais de 70 mil overdoses mortais registadas em 2017, 68% deram-se por consumo de opioides. Aliás, nesse mesmo ano, o número de overdoses por consumo de opioides (prescritos e obtidos de forma ilegal, como a heroína e o conhecido fentanil), foi seis vezes superior ao registado em 1999. Ainda de acordo com os mesmos dados, todos os dias morrem, em média, 130 americanos por overdose de opioides.
No final de agosto, a imprensa norte-americana anunciava que a empresa farmacêutica estaria a negociar um acordo no valor de 11,8 mil milhões de euros face às milhares de ações judiciais que foram interpostas. Dos 10 a 12 mil milhões de dólares em que o acordo estaria avaliado, a família Sackler deveria assumir o pagamento de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros), esperando-se uma reestruturação da Purdue Pharma através de uma declaração de falência, que a transformaria num fundo público — os lucros seriam doados aos queixosos e seriam oferecidos pela empresa tratamentos contra a dependência, através de medicamentos como a buprenorfina ou naxolona.
O acordo, cujos valores entretanto foram revistos, é apoiado por cerca de metade dos estados norte-americanos que estão a processar a empresa, tendo também o apoio de milhares de governos locais, mas há vários estados que estão contra a proposta, como é o caso do Massachusetts, Nova Iorque e Connecticut, que pretendem que os Sackler contribuam com mais dinheiro. O tribunal irá decidir como será feita a distribuição deste montante pelos diferentes estados, cidades e condados. Os membros da família também enfrentam vários processos por terem mentido, através de campanhas de marketing, sobre os efeitos da oxicodona.
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