Bruxelas diz que, para já, "a situação é hipotética", mas se se confirmar o pedido de adiamento do Brexit, a Comissão Europeia considera que "tal pedido teria de ser por uma boa razão". E que razão seria? A porta-voz do executivo comunitário Mina Andreeva não explica. "Quando for apresentada, vamos analisá-la. Podemos falar sobre isso quando acontecer".
Não é a primeira que os 27 pedem uma boa justificação a Londres para adiar a data do Brexit. Já o fizeram em março e abril voltam agora a repetir a mensagem, numa altura em que essa possibilidade cresce do outro lado do canal da Mancha. Evitar o pior cenário - uma saída desordenada dos britânicos - foi a grande justificação utilizada há seis meses e poderá novamente ser a razão capaz de convencer a UE a aceitar o pedido.
No entanto, a mesma porta-voz também lembra que os 27 têm de concordar com essa solução por unanimidade. E em abril, o presidente francês, Emmanuel Macron, mostrou-se muito reticente a concordar com novo adiamento em outubro.
Negociações continuam sem progressos
Enquanto não há pedido de extensão, há conversas entre os negociadores da UE e do Reino Unido, mas sem avanços visíveis. David Frost esteve ontem no edifício da Comissão, mas ainda não foi desta que o representante britânico apresentou propostas para ultrapassar o impasse nas negociações entre Bruxelas e Londres, nem "alternativas" ao mecanismo de salvaguarda para a fronteira entre as duas Irlandas, e que o Governo de Boris Johnson recusa aceitar.
As discussões ao nível técnico vão continuar e há um novo encontro marcado para amanhã. "Os dois lados concordaram em reunir-se novamente esta sexta-feira e para que as conversar progridam precisamos de receber propostas concretas", adianta Mina Andreeva.
"Esperar" e "propostas concretas" estão entre as palavras que mais tem repetido nos últimos dias e que voltou hoje a repetir durante a habitual conferência de imprensa diária com os jornalistas, lembrando sempre que tais propostas têm de respeitar o Acordo de Saída negociado com Theresa May, e essa é a parte que parece mais difícil de concretizar.
Extensão obriga a nomear comissário?
O primeiro-ministro Boris Johnson decidiu não apresentar qualquer nome para comissário britânico e a opção foi aceite, uma vez que a tomada de posse do novo executivo comunitário acontece no dia seguinte à saída do Reino Unido, marcada para 31 de outubro.
No entanto, se o Brexit for adiado, a questão da nomeação do comissário volta a colocar-se. O Reino Unido continuaria a ser Estado Membro por mais algum tempo, o que significa que durante esse período "teria os mesmos direitos e deveres (dos restantes 27), incluindo um comissário" na equipa da alemã Ursula Von der Leyen. Isso mesmo foi dito ao Expresso por fonte comunitária em julho.
Mina Andreeva escusa-se agora a comentar qual seria a solução. Para já, a nova Comissão terá uma presidente e 26 comissários. "Se a situação mudar podemos discutir o assunto outra vez", diz apenas a porta-voz.
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