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Guerra tecnológica. YouTube desativa 210 canais suspeitos de campanha de Pequim contra protestos em Hong Kong

Guerra tecnológica. YouTube desativa 210 canais suspeitos de campanha de Pequim contra protestos em Hong Kong
Omar Marques/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

É o terceiro gigante tecnológico a fazê-lo esta semana, após Facebook e Twitter. Algumas publicações das contas banidas pelas empresas comparavam manifestantes com militantes do Daesh, classificando-os como “baratas” e alegando que planeavam matar pessoas com fisgas, referiu o Facebook. Os protestos pró-democracia estão a entrar no seu terceiro mês

Guerra tecnológica. YouTube desativa 210 canais suspeitos de campanha de Pequim contra protestos em Hong Kong

Hélder Gomes

Jornalista

O YouTube informou esta quinta-feira que desativou mais de duas centenas de canais que pareciam fazer parte de uma campanha concertada contra os protestos pró-democracia em Hong Kong.

“Desativámos 210 canais no YouTube quando percebemos que se comportavam de um modo coordenado na publicação de vídeos relacionados com os protestos em curso em Hong Kong”, anunciou Shane Huntley, do grupo de análise da Google para ameaças de segurança.

A medida acontece depois de o Twitter e o Facebook terem acusado o Governo chinês de apoiar uma campanha nas redes sociais para desacreditar o movimento de contestação.

Hong Kong, uma região administrativa especial da China, vai a caminho do terceiro mês de protestos contra uma proposta, já abandonada mas não retirada completamente, que prevê a extradição de suspeitos de crimes para outras jurisdições, como a China continental, onde os críticos alegam não haver garantias de um julgamento justo. Foi este diploma que começou por levar as pessoas às ruas mas os manifestantes rapidamente alargaram as suas exigências, apelando a mais democracia e a uma investigação independente à repressão policial dos manifestantes. Pequim já avisou estar preparada para mobilizar forças de intervenção para conter os protestos, a que têm aderido milhões de pessoas, e assemelhou os manifestantes a “terroristas”.

Concentração de manifestantes no Parque Vitória, a 18 de agosto, em Hong Kong
THOMAS PETER/REUTERS

“A tentar semear a discórdia política em Hong Kong”

Na segunda-feira, o Twitter e o Facebook anunciaram a suspensão de quase mil contas ativas ligadas a uma campanha coordenada. “Estas contas estavam deliberada e especificamente a tentar semear a discórdia política em Hong Kong, inclusive minando a legitimidade e as posições políticas do movimento de protesto no terreno”, disse o Twitter, que acrescentou ter encerrado cerca de 200 mil outras contas antes de estas conseguirem infligir quaisquer danos.

Algumas publicações das contas banidas comparavam os manifestantes com militantes do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, classificando-os como “baratas” e alegando que planeavam matar pessoas com recurso a fisgas, referiu o Facebook.

“Estamos a revelar uma operação significativa focada na situação em Hong Kong, especificamente no movimento de protesto e nos seus apelos à mudança política. Com base nas nossas investigações exaustivas, temos provas credíveis de que se trata de uma operação coordenada apoiada pelo Estado [chinês]”, divulgou o Twitter.

Contas contornam proibição das redes na China

O Facebook esclareceu ter agido a partir de uma dica do Twitter para a remoção de sete páginas, três grupos e cinco contas com mais de 15 mil seguidores. “Apesar de as pessoas responsáveis terem tentado ocultar as suas identidades, a nossa investigação encontrou ligações a indivíduos associados ao Governo chinês”, acrescentou a empresa.

Tanto o Facebook como o Twitter são proibidos na China, pelo que muitas das contas falsas eram acedidas através de “redes virtuais privadas” que forneciam uma localização enganosa dos utilizadores. “No entanto, algumas contas acederam ao Twitter a partir de endereços IP específicos e desbloqueados originários da China continental”, explicou a rede social.

A 1 de julho de 1997, a antiga colónia britânica passou para a administração chinesa sob o modelo “um país, dois sistemas”, que prevê um conjunto de liberdades, incluindo a liberdade de protesto e um sistema judicial independente, que não são gozadas na China continental. A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, apoiada por Pequim, já acusou os manifestantes de porem em causa aquele modelo.

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