A congressista democrata por El Paso, Veronica Escobar, disse que o Presidente dos EUA, Donald Trump, “não é bem-vindo” na cidade texana, que ainda recupera de um dos mais mortíferos massacres na História recente do país. Trump visita esta quarta-feira El Paso e Dayton, no estado do Ohio, que no último fim de semana foram palco de assassínios em massa que fizeram pelo menos 31 mortos.
“Na minha perspetiva, ele não é bem-vindo aqui. Ele não deveria vir enquanto estamos de luto. Encorajo os membros da equipa do Presidente a aconselharem-no a fazer um pouco de autorreflexão. Encorajo-os a mostrarem-lhe as suas próprias palavras e ações nos comícios”, disse Escobar no programa “Morning Joe” da MSNBC.
Trump tem sido amplamente criticado por não reconhecer o papel da sua retórica em encorajar os nacionalistas brancos e em alimentar o ódio contra migrantes.
Imigração como “invasão” em mais de dois mil anúncios
Um manifesto, alegadamente escrito pelo suspeito de 21 anos do massacre de El Paso, revela que o ataque foi uma “resposta à invasão hispânica do Texas”. Segundo uma análise do jornal “The Guardian”, a campanha para a reeleição de Trump caracterizou a imigração como uma “invasão” em mais de dois mil anúncios de Facebook este ano.
Escobar escreveu no Twitter a mensagem que pretendia transmitir ao Presidente: “Ele precisa de entender que as suas palavras são poderosas e têm consequências. Usar linguagem racista para descrever mexicanos, imigrantes e outras minorias desumaniza-nos. Essas palavras inflamam outras.”
Ainda na terça-feira, a congressista referiu que recusara um convite para se juntar a Trump durante a visita depois de o Presidente ter rejeitado o seu pedido para discutir os comentários racistas sobre mexicanos e imigrantes.
Trump deve 569 mil dólares a El Paso
O comissário do condado de El Paso, David Stout, também sugere a Trump que reconsidere a sua deslocação àquela cidade. “Independentemente do que aconteceu aqui no sábado, ele demoniza e difama constantemente as pessoas que vivem nesta comunidade”, declarou à ABC News. “Não entendo por que motivo alguém pensou que seria uma boa ideia ele estar em El Paso”, acrescentou.
De acordo com a organização não-governamental de jornalismo de investigação The Center for Public Integrity, a campanha para a reeleição de Trump ainda deve à cidade 569,204 mil dólares (mais de 507 mil euros) por causa de um comício em fevereiro numa arena de El Paso.
“É ridículo e inconcebível. A cidade de El Paso é uma comunidade com problemas económicos. Ele vai atirar sal para a ferida, uma ferida muito, muito profunda. Esta comunidade precisa de cicatrizar e não de Donald Trump”, sublinhou Stout.
“Ele pode ir a Toledo, quem sabe?”
Já a presidente da Câmara de Dayton, Nan Whaley, disse esta terça-feira à FOX News que Trump vai à cidade “na qualidade oficial de Presidente dos EUA” e ela, “na qualidade oficial de mayor”, irá “recebê-lo”. Questionada sobre os protestos que o esperam, a autarca respondeu: “Ele fez a sua cama e tem de se deitar nela. A sua retórica tem sido dolorosa para muitos na nossa comunidade e penso que as pessoas devem mostrar que não estão felizes se não estiverem felizes que ele venha.”
Na véspera, Whaley ironizara sobre a deslocação de Trump a Dayton, dizendo: “Ele pode ir a Toledo, quem sabe?”.
Na comunicação presidencial de segunda-feira sobre os massacres, Trump confundiu Dayton com Toledo, outra cidade do estado do Ohio. “Que Deus abençoe a memória daqueles que pereceram em Toledo. Que Deus os proteja. Que Deus proteja todos do Texas ao Ohio. Que Deus abençoe as vítimas e as suas famílias”, declarou.
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