Apresenta-se apenas como Vicky. O nome não é o verdadeiro, foi o que esta mulher que nasceu fruto de uma violação escolheu para contar a sua história. A mãe tinha 13 anos quando um amigo da família, de 35, a agarrou e a violou. Vicky foi entregue para adoção e quando chegou à maioridade, descobriu a história da sua conceção e quis procurar o pai biológico. Quer, agora, que ele seja julgado e condenado porque ela sabe que é uma prova de um crime que pode finalmente ser provado.
“Sempre achei errado que o meu pai biológico nunca tenha sido julgado. Só depois pensei: eu tenho a prova de ADN porque eu sou a prova de ADN. Eu sou uma cena de crime”, contou Vicky ao programa da BBC “Victoria Derbyshire”.
Vicky prefere não dizer o seu nome. Nasceu em Birmingham, no Reino Unido, e foi adotada ainda em bebé, aos sete meses, algures nos anos 70. De acordo com o seu processo de adoção, a violação aconteceu quando a mãe foi a casa do pai, onde iria fazer de babysitter das crianças. Em sete partes diferentes dos papéis pode ler-se que houve uma violação. O facto de a vítima ter 13 anos na altura agrava o crime: além de violação passa também a estar em causa o crime de sexo com uma menor.
“Os documentos têm o nome dele e a morada, provam que os serviços sociais, a polícia e o pessoal médico sabiam do que aconteceu mas que ninguém fez nada. A minha mãe biológica é de uma família negra, da classe trabalhadora e não consigo parar de pensar que talvez estes comportamentos tenham algo que ver com isso”, apontou Vicky. “Quero Justiça para a minha mãe. Quero Justiça para mim. As consequências das escolhas dele moldaram toda a minha vida, e ele conseguiu escapar e viver toda a vida como queria.”
Vicky quer que o crime seja julgado sem vítima. Aos olhos da Justiça, Vicky não é considerada vítima, só a sua mãe biológica o é. A mulher não quer avançar com a investigação, recusando envolver-se de alguma forma no processo.
“Em 2014, uma mulher [Vicky] pediu-nos para abrir uma investigação histórica. No entanto a alegada vítima não quer cooperar ou prestar qualquer depoimento”, disse ao jornal britânico “The Guardian” Pete Henrick, da polícia de West Midlands. “À luz destes acontecimentos, a mulher questionou-nos se ela poderia ser identificada como vítima do crime e se assim o processo poderia continuar. A legislação não a reconhece como vítima nestas circunstâncias: contámos à Procuradoria e aconselharam-nos a não avançar com o processo”, explicou. Mas Vicky não pretende parar.
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