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Camboja. Nuon Chea, principal ideólogo do Khmer Vermelho, morreu aos 93 anos

Nuon Chea
Nuon Chea
NHET SOK HENG/AFP/Getty Images

O ex-dirigente fazia parte de um grupo de comunistas, encabeçado pelo antigo primeiro-ministro Pol Pot, que lideraram uma revolução sangrenta contra o Governo cambojano, apoiado pelos EUA. No ano passado, Chea foi considerado culpado de genocídio quando já cumpria uma pena de prisão perpétua por crimes contra a humanidade

Camboja. Nuon Chea, principal ideólogo do Khmer Vermelho, morreu aos 93 anos

Hélder Gomes

Jornalista

O principal ideólogo do Khmer Vermelho, Nuon Chea, morreu este domingo aos 93 anos, informou um porta-voz do tribunal do Camboja onde o antigo dirigente foi condenado. A causa da morte não foi avançada mas, segundo o tribunal, Chea encontrava-se hospitalizado desde o início de julho.

A cumprir uma pena de prisão perpétua por crimes contra a humanidade, incluindo a deslocação forçada de pessoas da capital cambojana, Phnom Penh, para campos de trabalho rurais e para a execução, Chea foi considerado culpado de genocídio num julgamento em novembro do ano passado.

O ex-dirigente fazia parte de um grupo de comunistas, encabeçado pelo antigo primeiro-ministro Pol Pot, formados em França e que lideraram uma revolução sangrenta contra o Governo, apoiado pelos EUA, depois de o Camboja se ter envolvido na Guerra do Vietname.

1,7 milhões de mortos em menos de quatro anos

Chea estudou Direito em Banguecoque, onde se tornou membro do Partido Comunista Tailandês. Em 1960, foi nomeado vice-secretário do Partido Comunista no Camboja, onde assumiu a segurança do partido e do Estado, além de gerir o centro de interrogatório e tortura S-21 de Phnom Penh, recorda a Deutsche Welle.

Durante o regime do Khmer Vermelho, que esteve menos de quatro anos no poder, estima-se que 1,7 milhões de cambojanos tenham morrido de fome, doença, excesso de trabalho ou executados.

Depois de tomar a capital em abril de 1975, o regime tentou criar uma sociedade agrária de inspiração maoísta, obrigando milhões de pessoas a trabalhos forçados. Para criar os seus coletivos e dissolver qualquer ideia de propriedade ou de laços familiares, o Khmer Vermelho transferiu praticamente toda a população das suas casas para outros lugares.

Khieu Samphan é o último líder vivo do regime

Com a morte de Chea, Khieu Samphan, com 88 anos, torna-se o último líder vivo do regime de Pol Pot. Samphan foi, juntamente com Chea, considerado culpado de genocídio no ano passado quando ambos já cumpriam penas de prisão perpétua.

Pol Pot, conhecido como o “irmão número um”, morreu em 1998 aos 72 anos quando estava em prisão domiciliária, antes de ser entregue a um tribunal internacional. Alguns afirmam que cometeu suicídio com medicamentos prescritos.

O tribunal da ONU para o Camboja, que julgou Chea e Samphan, foi estabelecido em 1997 mas a sua atuação tem sido prejudicada pela deterioração da saúde dos réus e pela interferência política. O tribunal condenou apenas três pessoas e acredita-se que o veredicto do ano passado possa ter sido o último. Na altura, o primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, que também foi membro do Khmer Vermelho, alegava que novas investigações poderiam ameaçar a estabilidade do país.

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