O famoso multimilionário acusado de tráfico sexual de menores, violação e abuso sexual de um número ainda não determinado de vítimas tinha um objetivo ainda mais mórbido: criar uma espécie de nova raça humana disseminando o seu ADN através da procriação “em série” com mulheres que levaria para o seu enorme terreno no Novo México.
Jeffrey Epstein falou a várias pessoas sobre o caso e quatro delas contaram ao “New York Times” que o investidor mantinha conversas com cientistas sobre este seu sonho e sobre o seu fascínio com o “transhumanismo”: o aperfeiçoamento da espécie humana através da tecnologia, da engenharia genética e da inteligência artificial.
O interesse de Epstein em ciência no geral é conhecido no meio. O diário norte-americano elenca vários episódios em que o ex-investidor organizou festas suntuosas, incluindo em ilhas que ele detinha, especialmente para alguns dos seus cientistas preferidos, a quem prometia financiamento para alguns dos programas de investigação em troca de conselhos que o pudessem ajudar a reproduzir-se múltiplas vezes e, assim, criar uma raça superior.
No início dos anos 2000, Epstein contou a alguns cientistas, e a amigos seus do ramo da banca de investimento, sobre a sua ambição em utilizar a sua enorme mansão como base para a experiência de inseminar mulheres com o seu esperma, de acordo com dois cientistas e um consultor que ouviram os devaneios de Epstein na altura. Ele não fazia muito segredo deste seu objetivo. O consultor disse ao “New York Times” que Epstein falava do plano a muitos homens de negócios; um dos cientistas referiu que Epstein partilhou estas ideias à mesa de um jantar na sua casa em Nova Iorque.
Jaron Lanier, autor considerado o pai da realidade virtual, disse que, em mais um desses jantares, Epstein disse a uma cientista (que se apresentou como sendo da NASA) que o plano era ter 20 mulheres em gestação de cada vez. Essas festas, disse ainda Lanier, serviam a Epstein para procurar mulheres bonitas com carreiras impressionantes e convencê-las a terem filhos seus.
Os críticos do “transhumanismo” consideram esta ala da ciência uma espécie de eugenia dos tempos modernos, um campo onde, através da modificação genética, pode criar-se seres sem doenças, com altos níveis de inteligência ou sem imperfeições físicas.
Em 2011, uma associação de solidariedade social criada por Epstein doou 20.000 dólares à Worldwide Transhumanist Association, hoje Humanity Plus. Na internet, o grupo diz querer “influenciar profundamente uma nova geração de pensadores que não tenha medo de levar a Humanidade ao próximo nível”. Mais 100.000 dólares foram doados para pagar pelo salário de Ben Goertzel, vice-presidente da Humanity Plus. Agora, Goertzel diz não querer falar de Epstein de todo. “As coisas que leio são profundamente perturbadoras e vão muito além das manias que eu achava que ele tinha. Yecch”, comentou por email ao “New York Times”.
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